A história trágica de uma família de Florianópolis rendeu a lenda de um hotel assombrado

O tempo é avassalador.

Confunde histórias, supera traumas e transforma bairros – que, de vez em quando, deparam-se com sua historicidade em cochichos, fofocas e lendas.

O bairro Abraão, localizado na cidade de Florianópolis, possui uma dessas histórias trágicas que pouco se tem referência, a não ser aquilo que os moradores há mais tempo da região contam sobre o episódio.

É a história da desavença de dois irmãos, mas também a história da lenda de um “hotel assombradode Governador Celso Ramos, a história de um assassinato, a história de uma tragédia familiar e a história de como lendas se criam.

Antigamente tinha um jardim no lugar deste estacionamento. A moradora dessa casa ali na frente, no meio entre dois prédios de esquina, era dona de muita coisa aqui. Só sobrou isso. Essa rua que o condomínio (Baía Sul) tem – era uma rua de verdade. Até hoje tem taxista que acha que sairá do outro lado. E tinha um posto de gasolina ali adiante. O Posto Itaguaçu“, testemunhou para mim o porteiro do prédio onde moro, o Condomínio Baía Sul.

A primeira vez que ouvi a história sobre o Posto itaguaçu foi voltando de um Uber. O motorista Ricardo cresceu no bairro Abraão e quando soube que morava ao lado do antigo terreno de seu amigo contou detalhes sobre como o terreno do edifício Doratta fora adquirido. “Eu era amigo do Fe. Ele era guri, eu era guri, a gente cresceu junto. Foi difícil acreditar no que ele fez”, relatou.

O caso do posto dos dois irmãos

O posto Itaguaçu foi fundado em 1987, há mais de trinta anos. Embora não exista mais, a sua situação permanece ATIVA na Receita Federal. O quadro de funcionários se relata indeterminado e seu capital social é R$ 0.

Um dos moradores da rua João Meirelles me conta: “antigamente ninguém vinha para o Abraão, tinha um campinho, gangues, ali o bar do Ori, que ficou famoso, a A’Kitutes que começou com um balcãozinho, mas ninguém investia muito aqui. Florianópolis cresceu muito desde 2005”.

A família Santos era dona do único posto de gasolina da rua, além da imobiliária responsável pelos contratos de praticamente toda a região. “Era uma família rica. Eles tinham muito dinheiro, o Fê era um dos sócios. O irmão era chamado de Casinho. Todo mundo daqui conhecia eles. Os irmãos eram próximos. Mas houve uma briga sobre dinheiro – e aí tudo desandou”, me relatou Ricardo.

O início de uma lenda

Dentro dos negócios da família Santos, um dos irmãos se interessava mais pela parte de hotelaria. Os pais foram alguns dos primeiros a investir na cidade de Governador Celso Ramos antes do boom dos anos 2000. Atualmente, há 40 praias na região, sendo uma delas a praia de Tinguá.

O Hotel Tinguá fica localizado na entrada da praia e foi um dos mais populares hotéis de Governador Celso Ramos nos anos 80 para os 90. A morte da proprietária, Eliane, fez com que houvesse uma disputa sobre a herança e a briga entre os dois irmãos.

O crime

Como resultado da briga, um dos irmãos ofereceu dinheiro a um policial chamado Sérgio para matar o outro irmão, o “Casinho”. O policial foi pego, preso e respondeu pelos crimes de tortura seguido de morte e ocultação de cadáver. O corpo de “Casinho” foi jogado num rio envolto num saco preto com pedras. Não demorou muito para o condenado entregar o mandante do crime, o irmão de “Casinho”.

“Ele contratou um dos advogados mais ricos daqui e conseguiu um habeas corpus. Ficou ali na DEIC, na prisão. E falou pra mim: nunca mais volto pra cadeia. Ou fujo ou me mato”, revelou Ricardo. De fato, quando o juiz revogou o habeas corpus, o homem fugiu de Florianópolis para Santa Maria, onde se matou, enforcado, em um banheiro de hotel, segundo o relato. No Tribunal de Justiça de Florianópolis, há ainda um processo contra ele, nº 006XXXX-49.2012, na Vara Criminal, onde também tem o nome de outro cúmplice do crime.

A história se tornou uma lenda no bairro Abraão e muitos falam que o irmão teria se matado na cadeia, outros que se matou em Tinguá e a história verdadeira foi rapidamente apagada pela imaginação.

A Lenda do Hotel Tinguá

Com a tragédia da família, a lenda do Hotel Tinguá se tornou popular e hoje ele é apontado como um dos lugares mal assombrados de Santa Catarina. A colega Morgana Kloth, no Notícias do Dia, chegou a publicar uma matéria sobre esses locais. De igual forma, há diversos vídeos no Youtube atualmente com turistas contando diferentes relatos sobre a história da família Santos. Alguns visitam o local com curiosidade para filmagens e contatos com supostos fantasmas que habitariam o lendário Hotel.

E o seu bairro? Quais as lendas você conhece dele? O que você já ouviu sobre sua região?

Conta aí nos comentários.

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