Nos últimos vinte anos, o cinema de terror foi marcado por novos contextos, como a popularização do found footage, o terror físico, o mumblegore, a ambientação estruturalista do horror sobrenatural de James Wan e, por fim, a ode ao estranhamento que culminou no último filme de Ari Aster, Midsommar – O Mal Não Espera A Noite.
Com a rica evolução do gênero através dos anos, o medo passou a ser cada vez mais uma associação simbólica de angústia e perturbação do que a literalidade de um monstro. Os medos se tornaram mais maduros e mais próximos de nossa realidade. O jump scare, igualmente, passou por um processo de despopularização. E isso culminou em novos termos ou tentativas de taxar novos subgêneros, como o fatídico artigo de Steve Rose pro The Guardian sobre o pós-horror.
Os novos filmes de terror passaram a abordar temas como o processo do luto, a nossa relação com a morte, a violência doméstica e aaté mesmo fantasmas políticos apareceram nas telas.
A seguir, eu procurei listar 200 filmes perturbadores, assustadores, angustiantes ou simplesmente seminais, que representam o melhor do gênero de terror dos últimos 20 anos.
São 200 filmes em 20 anos.
Todos os exemplares da lista ganharam cotações de 3 estrelas para cima. Muitos bons filmes que foram lançados neste espaço de tempo entrariam numa lista maior de 250 filmes, porém o objetivo não é indicar todos os filmes deste período – é, sim, trazer uma seleção proveitosa para tipos diferentes de espectadores e buscar apontar alguns dos melhores filmes desta era que vivemos no terror. Outras dicas, portanto, ficam no fim do post, onde compartilho as listas de meus favoritos dos últimos cinco anos, além do primeiro post que fiz com os 150 melhores.
Boas sessões!
Menções honrosas: A Mata Negra, de Rodrigo Aragão; Raw, de Julia Ducournau; e Sob a Sombra, de Babak Anvari.
200. Terror no Pântano, de Adam Green
(Hatchet, EUA, 2006)
Adam Green costuma construir seus terrores com uma dose de cinismo, como faz no simpático Digging Up the Marrow, onde brinca com sua própria filmografia. Embora tente sempre procure providenciar algum drama para a história. Na sua franquia Terror no Pântano, o original é o que mais se aproxima da sua pretensão máxima: construir um slasher autoparódia eficiente para contar a história de Victor Crowley.
FYC: Após achar que está a salvo, o personagem de Joel Murray tem a cabeça completamente girada e arrancada pelo assassino.
199. Styria, de Mauricio Chernovetzky e Mark Devendorf
(Hungria, 2014)
Numa continuação lógica do terror vampiresco atual, é um retrato provocante do isolamento e da renegação da família proveniente de uma garota que “grita” por mistério.
FYC: Antes de qualquer marca no pescoço de sua vítima, Lara enfia um caco de vidro no local, como se não quisesse tocá-la.
198. Sobrevivente, de Adam MacDonald
(Backcountry, Canadá, 2014)
Em sua estreia à frente de longas-metragens, Adam MacDonald se desprende da proposta de inúmeros filmes do subgênero, envolvendo-nos num thriller crescente e de bom gosto.
FYC: A tensão gerada pelo estranho personagem de Eric Balfour, que produz uma desconfiança preconceituosa do casal Jenn e Alex, quando a preocupação deles deveria ser com a natureza animal, não a humana.
197. Quarentena, de Billy O’Brien
(Isolation, Irlanda, 2005)
Nos últimos anos, a quantidade de filmes de infecção generalizada que se alastrou rapidamente pelo globo foi quase incontável. O filme de Billy O’Brien concentra sua atenção numa pequena comunidade rural, onde a praga é gradativa, natural e tensa.
FYC: Algo começa a subir pelas cobertas de Mary.
196. Insensíveis, de Juan Carlos Medina
(Insensibles. França, 2012)
Juan Carlos Medina pode dar voltas e mais voltas, mas consegue acrescentar a inevitável mensagem: num mundo em que o espectro da guerra sobrevive, a insensibilidade à dor é um estudo que pode render resultados impressionantes.
FYC: Ao descobrir sua “insensibilidade”, uma menina se ateia fogo e outros tentam fazer o mesmo, sem saber que não possuem essa mesma natureza.
195. Harvest Lake, de Scott Schirmer
(EUA, 2016)
Sou fã desta história de Scott Schirmer, que constrói um erotismo diabólico e alienígena delicioso. Destaque para Tristan Risk, numa trama psicolélica e divertida.
FYC: As histórias ao redor do fogo.
194. O Mistério da Passagem da Morte, de Renny Harlin
(The Dyatlov Pass Incident. Rússia/EUA, 2013)
Típico caso de que nem as atuações inverossímeis ou a direção imprecisa de Renny Harlin sabotam toda a estrutura belíssimamente executada pela fotografia, que sempre nos envolve no isolamento daquelas pessoas ou com o futuro delas.
FYC: A intrigante história da expedição que inicia o longa.
193. The Children, de Tom Shankland
(Reino Unido, 2008)
Desde a primeira aparição de destaque de uma criança no horror, em O Golem, o uso da figura infantil sempre intrigou, pelo poder de sua dubiedade. Aqui, a fragilidade familiar e o isolamento correlacionam a mudança comportamental dos pequenos com o afastamento de seus pais.
FYC: A única opção de uma mãe, após ser atacada na barraca pelo seu filho, é matá-lo.
192. Ritual, de David Bruckner
(Canadá, 2017)
Um terror eficiente em que seus personagens são constantemente perseguidos por seus maiores medos.
FYC: Os gritos de Hutch são ouvidos floresta adentro.
191. Hollow, de Michael Axelgaard
(Reino Unido, 2011)
Clássico exemplo de found footage que compreende que o charme do subgênero reside no relacionamento interpessoal dos protagonistas e as consequências de suas ações.
FYC: Um dos amigos deixa os outros para trás e começa a voltar para a cabana sozinho na escuridão.
190. Z, de Brandon Christensen
(Canadá, 2019)
Tem alguns dos melhores sustos do ano. Aos poucos, todavia, o que parecia um terror sobrenatural comum de 1h30min, torna-se uma obra tomada por tristeza familiar e que flerta com o que Brandon conseguira fazer tão bem no filme anterior – o horror e a sua tentativa de racionalizá-lo o máximo.
FYC: A sequência na casa do amigo de Josh.
189. Bad Hair, de Justin Simien
(EUA, 2020)
Desde a substituição gradual de Culture por Cult, esse black horror divertido de Justin Simien provoca um simples e amalucado terror de um cabelo que consome sangue em algo maior – sobre fama, empoderamento e, claro, rituais construídos por séculos em maneiras de dominação.
FYC: A transa mortal de Ana e Julius.
188. Casa dos Sonhos, de Ho-Cheung Pang
(Wai dor lei ah yut ho. Hong Kong, 2010)
Seu maior horror é a economia mundial, o que traveste seu drama em um thriller macabro e eficiente.
FYC: Qualquer cena envolvendo o martelo.
187. Bad Milo, de Jacob Vaughan
(EUA, 2013)
Satirizando sua metáfora desde o princípio, é divertido como age com o preceito naturalmente bizarra, apoiando-se substancialmente nisto.
FYC: Duncan passa a amar uma parte sua que o assustava, Milo.
186. Último Trem, de Ryûnei Kitamura
(The Midnight Meat Train. EUA, 2008)
O longa-metragem transita entre a obsessão e o limite do retrato, tornando-se um testemunho primitivo da imitação, pegando como gancho o submundo e a virilidade do personagem de Vinnie Jones.
FYC: O vagão de mortos.
185. In Fabric, de Peter Strickland
(Reino Unido, 2018)
Há algo bastante perturbador no novo filme de Peter Strickland, In Fabric, uma fábula a respeito de um consumo debilitador e eterno. Não tão poderoso quanto seu filme anterior, mas ainda intrigante.
FYC: O ritual
184. Byzantium, de Neil Jordan
(Irlanda, 2012)
Como se vampiros fossem andarilhos que servissem como uma espécie de intermediários entre a vida e a morte, a profundidade que Neil Jordan produz na platônica amizade entre Ella e Clara (nos mesmos moldes de Lestat e Louis) termina conduzindo o terror de uma forma muito mais triste do que aventureira, algo que curiosamente se afasta do que sempre foi seu forte.
FYC: Hanna prova sangue pela primeira vez.
183. Casa de Suor e Lágrimas, de Sonia Escolano
(Espanha, 2018)
E se Cristo renascesse? Como seria recebido por fundamentalistas? A resposta é aterrorizante, na visão de Sônia Escolano.
FYC: A crucificação.
182. The Deeper You Dig, de Toby Poser e John Adams
(EUA, 2019)
Dirigido por uma família norte-americana, Toby, John e Zelda, The Deeper You Dig gira em torno do trio. A personagem de Toby procura a filha perdida. O personagem de John a matou. A figura de Zelda é o fantasma da obra, cujo efeito é irreparável na vida dos protagonistas – cada um vivendo seu mundo distinto. Essa dualidade registrada no longa-metragem do casal se torna autoexplicativa numa cena em que os dois dividem uma mesa de tarô e passam a falar sobre dualidades, sobre o masculino e o feminino, sobre a vida e a morte e sobre o visível e o invisível.
FYC: A cena final.
181. Spiral, de Kurtis David Harder
(Canadá, 2019)
Há algo errado na comunidade para qual Aaron e Kurtz se mudam – o primeiro busca criar laços com os vizinhos, enquanto o segundo observa a comunidade como uma extensão da realidade mundana. O falso isolamento no campo não ressoa no ambiente familiar do casal. O preconceito os acompanha, e cada um lida de sua maneira. O terceiro ato de Kurtis David Harder pode não ser o bastante para amarrar essas lacunas, mas a influência de Bebê de Rosemary, O Culto, A Entidade e outros filmes mais recentes é perceptível e admirada.
FYC: A câmera mostra vultos encapuzados ao redor da casa, quando Aaron se dá conta do que está de fato acontecendo.
180. Hotel, de Jessica Hausner
(Áustria, 2004)
Um terror intimista, introspectivo, que pode não soar tão organizado ao espectador, mas que produz uma experiência intensa e inteligente.
FYC: O plano em que a personagem vai em direção a escuridão num corredor poderia ser enquadrado e vendido a qualquer preço. Eu compraria.
179. Impetigore, de Joko Anwar
(Perempuan Tanah Jahanam, Indonésia, 2019)
De certa maneira, todos os personagens deste filme de Joko Anwar querem fugir de seu passado, ainda que ele continue lá para lembrá-los das maldições e memórias trágicas feitas com sangue e pele. Com múltiplos twists, este terror indonésio é criativo e repulsivo.
FYC: A atendente de um pedágio passa a ser perseguida por um homem.
178. Caçador de Troll, de André Ovredal
(Trolljegeren. Noruega, 2010)
Imaginativo, a sua montagem é o que acrescenta no drama dos garotos que encontram um caçador de trolls, construindo um avanço quase crível na história.
FYC: O primeiro contato com o caçador com ele correndo na direção dos jovens.
177. Batalha Real, de Kinji Fukasaku
(Batoru rowaiaru. Japão, 2000)
Um massacre governamental do ponto de vista juvenil é, como não poderia deixar de ser, bastante violento, contudo, ao mesmo tempo, consciente e assustador.
FYC: É revelado que, a partir dali, cada personagem deverá pegar uma mochila e sobreviver.
176. The Woman – Nem Todo Monstro Vive Na Selva, de Lucky Mckee
(EUA, 2011)
Não à toa, um dos responsáveis pelo roteiro é Jack Ketchum, do fascinante A Menina da Porta ao Lado, já que o princípio é o mesmo: o homem e a família como os piores monstros imagináveis. Aqui, a ineficácia é de toda uma família desestruturada, não apenas de uma mãe depressiva e problemática.
FYC: O filho observa o pai abusando da “nativa”.
175. Predadores Assassinos, de Alexandre Aja
(Crawl. EUA, 2019)
Como um predador pode se sentir acuado? Sendo colocado diante de outro maior que ele, talvez. Alexandre Aja prova mais uma vez seu óbvio talento para construir cenas tensas e grandiosas sobre nosso instinto de sobrevivência em ambientes claustrofóbicos e inóspitos – neste caso, durante um furacão, pai e filha sendo cercados por crocodilos. Tenso, divertido, simples e eficiente.
FYC: A protagonista precisa nadar de um posto de gasolina até um bote salva-vidas.
174. Vertigem, de Abel Ferry
(Vertige. França, 2009)
Tenso e angustiante, o único problema de Vertigem é o garoto Loïc, cujo overacting pode causar irritação, além dos flashbacks. O longa-metragem de Abel Ferry é sábio na utilização da câmera na mão, por exemplo, gerando um simples desconforto nas tomadas em que quer oferecer vertigem ou insegurança. Sem contar a transição de caçadores de aventuras à caças, que é feita sem desgaste.
FYC: A cena da passagem de uma montanha para a outra, que eleva o índice de adrenalina na narrativa.
173. She Dies Tomorrow, de Amy Seimetz
(EUA, 2020)
Com a mesma semântica do medo de Midsommar, esta obra de Amy Seimetz se ancora no confronto de seus personagens com a morte e com a possibilidade da compreensão de que, sim, todos irão morrer. A transmissão desse pensamento comunitário pode causar estranhamento ou falta de compreensão para muitos espectadores, talvez por não se sentirem próximos de alguma forma do horror intimista que a autora propõe. Para quem conseguir, no entanto, aproximar-se da proposta – a recompensa pode ser enorme.
FYC: A irmã de um dos personagens chega a uma festa e fala a todos que morrerá amanhã.
172. Presos no Gelo 2, de Mats Stenberg
(Fritt vilt II. Noruega, 2008)
Naturalmente verossímil, o apego à carga dramática do primeiro filme, reproduzido também no hospital, oferece uma boa empatia a um filme de serial killer; culminando numa proposta bastante similar com a de Halloween II.
FYC: Ao tirar a máscara do assassino, Jannicke se surpreende ao ver um homem.
171. Them That Follow, de Dan Madison Savage e Britt Poulton
(EUA, 2019)
Dan Madison Savage e Britt Poulton criam uma obra pesada, angustiante e que se aproxima, por vezes, do brilhante Além das Montanhas. Mais do que interessados pelo triângulo amoroso, os diretores potencializam a atmosfera da narrativa com closes amedrontadores no culto, nas cobras e nas incertezas de seus personagens. Duas cenas são esplêndidas justamente pela simplicidade – Augie desesperado por um médico, Mara precisando provar sua fé. É um trabalho pouco complicado e honesto, além de ser um apavorante para quem teme cobras ou fanáticos.
FYC: Mara precisa provar sua fé.
170. Stitches, de Conor McMahon
(Irlanda, 2012)
Dificílimo não sorrir com uma seita satânica de palhaços que ressuscita quem não consegue terminar seu número. Outra pérola do terror irlandês.
FYC: Depois de uma brincadeira infantil “inocente”, a primeira (!) morte do palhaço.
169. Seres Rastejantes, de James Gunn
(Slither. Canadá, 2006)
Gunn celebra uma revisita aos anos 50 do sci-fi, mas com mais gore e comédia. Funciona.
FYC: A famigerada cena na banheira.
168. My Friend Dahmer, de Marc Meyers
(EUA, 2017)
É inegável que o cinema de horror sempre se interessou por mentes diabólicas (desde Psicose até O Massacre da Serra Elétrica). Pela infância de seus retratados, não tanto quanto poderíamos imaginar, já que períodos de juventude tendem a suavizar essa faceta monstruosa que fornece o assombro histórico. Em My Friend Dahmer, o diretor se interessa pelo que levou um outsider da sociedade aos crimes que iria cometer. Quem ele foi antes de se tornar tragicamente famoso. O terror está em seu futuro. E no fato de conhecermos o que viria a ser sua história.
FYC: A cena de apresentação do protagonista é um deleite para quem ama um bom roteiro.
167. Host, de Rob Savage
(Reino Unido, 2020)
Um irmão siamês de Amizade Desfeita, embora seja menos impactante que aquele, Host arrepia e reflete um de nossos maiores medos ocidentais: a profanação da morte.
FYC: Um dos amigos decide ir até o sotão.
166. A Cor que Caiu do Espaço, de Richard Stanley
(Color Out of Space. EUA, 2019)
A fragilidade da vida humana diante do desconhecido oxigenada pelas letras do maior escritor de terror que já existiu. Richard Stanley nos convence dos microrganismos que tomam a vida de uma fazenda e destroem a concepção de vida daquelas pessoas. Inspirado por Lovecraft, o cineasta debate a fascinação pelo aterrorizante, mantendo-nos sob a fustigação familiar – jamais saindo de seu manto. Superficial ou não, o filme decide ser assim. E a história se reserva esse direito. A profundidade fica por nossa conta.
FYC: A mãe é vista na sua nova forma.
165. Leite Materno, de Edward Pionke
(Mother’s Milk. EUA, 2013)
A natureza sociopata numa bolha melancólica intrigante.
FYC: Claude arranca o mamilo de Kim com os dentes.
164. A Babá, de McG
(The Babysitter. EUA, 2017)
A divertidíssima comédia sobre uma babá que, na verdade, pertence a uma seita satânica e que usa o sangue virgem dos meninos para quem trabalha.
FYC: Depois de beijar um adolescente, a babá finca duas facas no seu crânio.
163. Bedevilled, de Jang Cheol-soo
(Kim Bok-nam salinsageonui jeonmal. Coréia do Sul, 2010)
Psicológica e fisicamente brutal, uma obra que chega ao limite da misoginia para horrorizar.
FYC: O silêncio diante do espancamento de uma sofrida personagem.
162. Little Deaths, de Simon Rumley, Sean Hogan e Andrew Parkinson
(Inglaterra, 2011)
Talvez, o maior “problema” do longa-metragem também seja sua maior virtude: três histórias que divergem entre si. Mas o resultado final ofusca as falhas maiores. No segmento House and Home assistimos ao casal sendo confrontado por seus próprios pecados; Mutant Tool parece ter saído diretamente de uma história de Stephen King e é o menos explicativo dos três; ao passo que o último, Bitch, transforma o sexo como principal adestrador da sociedade e temos que confrontar, mais uma vez, nós mesmos. É claro que podem não ser histórias complementadoras, porém funcionam separadas.
FYC: Um casal convida uma garota para visitá-los com intenções diabólicas. Entretanto, o jogo vira.
161. Um Lugar Silencioso, de John Krasinski
(EUA, 2018)
Mesmo que Krasinski perca a oportunidade de mergulhar seu filme num silêncio completo, a sua tensão provoca força para sua narrativa.
FYC: O primeiro barulho provocado por uma das crianças.
160. Espinhos, de Toby Wilkins
(Splinter. EUA, 2008)
Antes de tentar a sorte com a franquia O Grito, no terceiro exemplar, o diretor Toby Wilkins estreava neste interessante sci-fi, que se juntava ao apelo de Cabana do Inferno, ao encontrar tons cômicos na abordagem macabra.
FYC: A ajuda chega na pele de uma policial que desconhece o monstro que os cercam no poste de gasolina; por pouco tempo.
159. Boa Noite, Mamãe, de Severin Fiala e Veronika Franz
(Ich seh, Ich seh. Áustria, 2014)
A intensidade com que a narrativa é sobrecarregada, aliada aos tons fúnebres e ambíguos, lança ao espectador uma angústia sintomática e provocante. Severin Fiala e Veronika Franz retornam às perguntas levantadas por Honeymoon e, em menor grau, por A Pele Que Habito: quem está vivendo na mesma casa que você?
FYC: Os gêmeos amarram a mãe em sua cama para descobrir quem é a invasora e o que ela fez com a mãe deles.
158. Zombi Child, de Bertrand Bonello
(França, 2019)
Na verdade, a mitologia do zumbi provém de uma trágica e poética história reunida primeiramente por um escritor chamado William Seabrook, que testemunhou durante sua estadia no Haiti alguns dos rituais feitos com possessão, vodu e verificou em sua pesquisa a base desta concepção. O Haiti foi uma terra tomada pela violência europeia, onde só foi possível a independência através da força e ferocidade de líderes affranchis e, ainda hoje, o país chega a registrar no artigo 249 de seu código penal uma referência direta ao mito do zumbi: no qual “proíbe que causar efeito letárgico numa pessoa de maneira mais ou menos prolongada, mesmo que não se produza a morte, quaisquer que seja a consequência, é considerado crime e tentativa de homicídio”.Poucos filmes se aventuram nos horrores desta cultura escravocrata, na atualidade, como forma de pânico social. Mas Zombi Child parece ser um filme feito na época certa – numa França dominada pelo medo da solidão, ao mesmo tempo que socialmente indique um colapso econômico com que fará que seus cidadãos trabalhem até morrer.
FYC: A cena envolvendo o vodu.
157. Relic, de Natalie Erika James
(Australia, 2020)
A metáfora sobre os sinais que unem a genética, a família e, consequentemente, suas gerações.
FYC: Bella Heathcote se arrastando entre as paredes de uma casa opressiva é uma das cenas do ano.
156. Still/Born, de Brandon Christensen
(Canadá, 2017)
Mulheres atormentadas pelo pós-parto já renderam alguns bons filmes dos anos 2000 (The Ones Below, por exemplo). Com um clima de horror que manipula o espectador a todo instante, o filme de Brandon Christensen é melancólico e assustador na medida, colocando-nos numa perspectiva angustiante.
FYC: A protagonista enlouquece gradativamente no terceiro ato.
155. Charlie Says, de Mary Harron
(EUA, 2018)
Há algo extremamente incômodo e perturbador em Charlie Says. Está no som, na atmosfera e, idem, na sensibilidade com que Mary Harron encara o caos convidativo. Na trilha de assassinatos que três garotas estão entrando, à primeira vista, observa-se uma contracultura que incide naturalmente sobre a ingenuidade de jovens dispostas a procurar o diferente, ainda que não saibam aonde vão. É fácil, com o bônus da soberba atuação de Matt Smith, compreender a vulnerabilidade daquele mundo, embora os tons de vermelho sugiram ao contrário. Antes de tudo, há uma liberdade na sordidez do Manson presente na narrativa de Harron. A diretora avisa: você entra no inferno, mesmo que não o reconheça. Sintomático que, aos poucos, descubra-se o fim da jornada (talvez, a primeira cena que indique seja a de alguém cortando um cordão umbilical com os dentes). Não se engane pela estrutura prosaica, Charlie Says é realmente macabro. É a corrupção da inocência.
FYC: Personagem corta cordão umbilical com a boca.
154. Mulberry Street – Infecção em Nova York, de Jim Mickle
(Mulberry St. EUA, 2006)
Poucos começaram uma filmografia de forma tão concisa quanto o promissor Jim Mickle. Em seu primeiro filme, o americano foge da natureza cômica de seus correlacionados, culminando em algo mais sádico e trágico.
FYC: Dentro de um bar, acompanhamos o desenvolvimento da infecção e da mutação dos clientes.
153. 10 Cloverfield Lane, de Dan Trachtenberg
(EUA, 2016)
Uma grata surpresa, onde se troca o monstro do primeiro filme pelas sequelas entre aqueles que precisam sobreviver com medo do que pode estar lá fora e se é de fato pior do que está dentro de onde vivemos.
FYC: A protagonista consegue finalmente sair do banker.
152. A Atração, de Agnieszka Smocczynska
(Polônia, 2015)
Um musical de terror polonês com sereias assassinas. Precisa dizer mais alguma coisa?
FYC: A aproximação social das sereias numa dança fabulesca dentro de um supermercado.
151. Identidade, de James Mangold
(Identity. EUA, 2003)
A carreira de James Mangold é conhecida por seus altos e baixos, mas Identidade é certamente o ponto mais alto que já atingiu. Ao abordar dez estranhos que se veem emboscados num motel durante uma tempestade e começam a morrer, um a um, o diretor nos insere literalmente dentro da mente de um assassino, o que faz o percurso ser muito mais interessante do que apenas um thriller comum.
FYC: Ed descobre que é apenas uma das personalidades de Malcolm Rivers.
150. Entes Queridos, de Sean Byrne
(The Loved Ones. Austrália, 2009)
Apresentando seus personagens com um fascínio pela loucura e com uma conotação incestuosa, Entes Queridos se compromete emocionalmente com o seu sadismo, o que desperta uma sensação curiosa.
FYC: A dança vulneravelmente emocional (e chocante) de pai e filha.
149. A Maldição da Freira, de Aislinn Clarke
(The Devil’s Doorway. Irlanda, 2018)
Um dos melhores terrores de 2018. É um found footage sobre dois padres que são mandados para um lar irlandês, onde uma adolescente apresenta sinais de possessão.
FYC: Durante a noite, os padres observam a jovem descendo as escadas, enquanto a filmam com a luz da câmera piscando constantemente.
148. Horsehead, de Romain Basset
(França, 2014)
Entrelaça as percepções de onírico e realidade com uma destreza hipnotizante, absorvendo-nos numa maturidade gigantesca ao decorrer da narrativa com as inquietações da protagonista e sua relação com a mãe.
FYC: A estranhíssima cerimônia de concepção dentro de uma seita religiosa.
147. A Horrible Way To Die, de Adam Wingard
(EUA, 2010)
Através de uma narrativa ensurdecedoramente silenciosa, o rastro de destruição de um serial killer na ótica triste de Adam Wingard.
FYC: Dentro de uma cabana, Garryck retorna.
146. The Subjects, de Robert Mond
(Austrália, 2015)
Antes de Brightburn entrar em cartaz, como uma história de terror ao avesso do Superman, a Austrália lançava essa tensa e intrigante ficção sobre um grupo que é cobaia de um experimento que fornece superpoderes a cada um. A questão do filme é como controlá-los, para que eles não acabem causando a sua morte.
FYC: A primeira vez que o primeiro do grupo descobre seu novo poder.
145. Nina Forever, de Ben e Chris Blaine
(Reino Unido, 2015)
Imagine você, a cada vez que fazer sexo, deparar-se com o espectro de sua ex-namorada morta. Agora imagine de forma literal. Essa é a amalucada, mas ótima trama de Nina Forever dos irmãos Blaine.
FYC: Holly vê Nina pela primeira vez.
144. The Den, de Zachary Donohue
(EUA, 2013)
Qual é um dos maiores temores da sociedade atual? Muitos pensam instantaneamente em privacidade. Ainda que a internet nos permita nos comunicarmos com qualquer parte do mundo, ela também faz com que qualquer parte do mundo chegue até nos. É o que guarda a essência do longa-metragem de Zachary Donohue, cuja protagonista desenvolve uma tese sobre bate-papos aleatórios e se envolve num eventual slasher que nem ela ou o espectador se dá conta.
FYC: Alguém pega o computador de Elizabeth e a filma dormindo.
143. Musarañas, de Juanfer Andrés e Esteban Roel
(Espanha, 2014)
Uma família assombrada pela figura opressiva do pai, torna-se refém a repetir as suas mesmas ações, na pele da irmã interpretada por Macarena Gómez, que, por ter sido a principal vítima daquele, é também a principal afetada.
FYC: Ao se ver sem escolhas, Montse enfia uma de suas agulhas em uma convidada que descobre que ela virou seu pai.
142. Grabbers, de Jon Wright
(Irlanda, 2012)
Uma divertida e despretensiosa comédia, onde os realizadores parecem ser tão irresponsáveis quanto seus personagens embriagados – e de forma positiva.
FYC: Percebendo a vulnerabilidade dos invasores, os protagonistas decidem manter seus moradores embriagados no bar.
141. 1408, de Mikael Häfstrõm
(EUA, 2008)
Na adaptação do conto de Stephen King, o terror encontra alguma profundidade na pele de um melancólico e cético John Cusack.
FYC: Do outro da janela, alguém imita os trejeitos do protagonista.
140. Lake Mungo, de Joel Anderson
(Austrália, 2008)
Numa perspectiva familiar, com o recurso documental, Lake Mungo alcança uma empatia muito forte, beneficiando-se com os twists no roteiro e seu tom fúnebre.
FYC: Pelas filmagens de um celular, nós nos deparamos com uma personagem morta.
139.Annabelle: A Criação do Mal, de David F. Sandberg
(EUA, 2017)
O melhor exemplar da franquia da boneca. Sandberg consegue criar sequências impressionantes, como a que é minha favorita: a das meninas contando uma história de terror sob o lençol branco.
FYC: Enquanto as amigas contam uma história, elas começam a ouvir a história tomar forma.
138. Amores Canibais, de Ana Lily Amirpour
(The Bad Batch. EUA, 2016)
Melhor que seu outro longa, A Garota Que Anda Sozinha Pela Noite, Amores Canibais já inicia com uma sequência excepcional. A protagonista de Suzi Waterhouse é uma daquelas protagonistas admiráveis que aparecem de tempos em tempos.
FYC: O eremita de Carrey.
137. A Morte do Demônio, de Fede Alvarez
(Evil Dead. EUA, 2013)
Não desmerece o original, funciona como prequel, mantém-se divertidíssimo, assusta pontualmente, homenageia o gore. Não daria para pedir algo a mais para o ótimo Fede Alvarez.
FYC: Pode-se pensar na transformação de Mia ou na amputação de um braço, mas nada supera a chuva de sangue.
136. Possessor, de Brandon Cronenberg
(Canada, 2020)
Deslumbrante visualmente, o filme de Brandon Cronenberg é violento, metódico, paranoico e sintomaticamente feroz. É como assistir a um filme de seu pai, David, no começo da carreira.
FYC: Um dos ‘possuídos’ volta para matar o pai de sua namorada.
135. Ao Cair da Noite, de Trey Edward Shults
(It Comes At Night. Canada, 2018)
Outro exemplar tenso da A24, onde o instinto de sobrevivência impera.
FYC: Personagem decide matar sua família.
134. Quando Eu Era Vivo, de Marco Dutra
(Brasil, 2014)
No seu primeiro longa-metragem solo, Marco Dutra não rompe a barreira entre sobrenatural e real presente no brilhante Trabalhar Cansa, revelando-nos que o terror não é definido pelo gênero, mas pelos acontecimentos familiares no roteiro.
FYC: Uma foto da mãe entre os personagens de Sandy e Marat é enquadrada, enquanto os dois cantam uma melodia macabra composta por ela.
133. Alena, de Daniel di Grado
(Suécia, 2015)
O mais próximo de um remake de Carrie – A Estranha que tivemos. Da mesma pegada de Sweet Sweet Lonely Girl, etc.
FYC: Qualquer cena envolvendo Alena e Fabbienne.
132. Espíritos – A Morte Está ao Seu Lado, de Parkpoom Wongpoom e Banjong Pisanthanakun
(Shutter. Tailândia, 2004)
Na trama, um jovem fotógrafo passa a ser atormentado pelo espírito de uma garota atropelada, que agora quer vingança. Unindo o drama sobrenatural quase contado em forma de fábula pelos orientais com os tons vingativos, tornou-se um clássico instantâneo.
FYC: Finalmente, revela-se o motivo da dor nas costas de Thun.
131. Sala Verde, de Jeremy Saulnier
(Green Room. EUA, 2015)
As tramas do americano Jeremy Saulnier são sempre fundamentadas na violência e este filme não é exceção. Uma banda de punk rock fica presa num lugar sem saída, após testemunhar um assassinato. Mais um exemplar da A24.
FYC: Todas as mortes são brutais e fascinantes.
130. The Bay, de Barry Levinson
(EUA, 2012)
Expande o uso do found footage associando o caos social de uma pequena cidade com a individualidade e impressiona pela sua coesão.
FYC: A passagem pelos jornais, no início.
129. Ruínas, de Carter Smith
(The Ruins. Austrália/EUA, 2008)
A cadência que Carter Smith sublinha entre extremo e adversidade palpável é o que mais surpreende no terror de jovens que acham uma ideia genial explorar uma pirâmide maia não catalogada.
FYC: Não só os protagonistas ficam estarrecidos com a demonstração de uma força orgânica diferente, como também o espectador.
128. Somos o que Somos, de Jim Mickle
(We Are What We Are. França, 2013)
Mergulhado numa tristeza operante, um sugestivo drama canibalístico que indica novamente o talento de Jim Mickle para extrair tensão no breve e no sutil.
FYC: As filhas fazem o banquete final.
127. The Eyes of my Mother, de Nicolas Pesce
(EUA, 2016)
Carrega afinidade com filmes como Gwen, The Wind, Hagazussa e tantos outros lançados nos últimos anos, onde uma jovem que vive isolada se depara com o domínio opressivo e violento da sociedade.
FYC: A dança fantasmagórica de Francisca na sala.
126. Amulet, de Romola Garai
(Reino Unido, 2020)
Amulet é uma das obras que jamais imaginaríamos feitas por um homem na direção. Tomaz é um ex-soldado que se tornou um sem-teto numa Londres decadente. Ele encontra moradia numa casa em que moram duas mulheres, uma delas é uma velha matriarca que está prestes a morrer e que pode estar possuída por uma entidade demoníaca. É perceptível desde o princípio, ainda que o filme de Romola seja misterioso, que algo cerca cada um daqueles personagens. Há muito medo, culpa e repressão por todo lugar. Um sentimento cada vez mais manifesto e respaldado pela acentuação de cada personalidade, bem como pela música primitiva. A cena com morcego no vaso é um deleite. Um exercício de tensão cirúrgico.
FYC: A câmera de Romola Garai experimenta uma sensação de horror diferente ao enquadrar passos com sangue no chão e parar numa mulher grávida implorando por piedade, enquanto dá a luz.
125. Fashionista, de Simon Rumley
(EUA, 2016)
Flerta tanto com Roeg quanto David Lynch e Aronofsky, ao misturar com excelência o que já de melhor em seu cinema: violência, sexo, paranoia e submissão.
FYC: A primeiro contato com César debaixo da cama.
124. Quarto Secreto, de Andrés Baiz
(La Cara Oculta. Colômbia, 2011)
Com uma reviravolta realmente surpreendente, torna-se outro filme a partir do segundo ato, que conta com uma emoção bem maior para personagens que, até então, pareciam boçais.
FYC: Passamos a conhecer o que “assombrava” a casa de um casal recém-formado.
123. Você é o Próximo, de Adam Wingard
(You’re Next. EUA, 2011)
Adam Wingard deixa o promissor início, onde podemos captar influências de Zaroff, o Caçador de Vidas e Violência Gratuita em seu “capital-horror” para subverter o uso da final girl.
FYC: A primeira flecha que vai em direção a um dos convidados.
122. Madrugada dos Mortos, de Zack Snyder
(Dawn of the Dead. Canadá, 2004)
Um dos maiores acertos da carreira de Zack Snyder, onde o diretor faz uma breve e especial homenagem ao grande George Romero; com humor.
FYC: Do telhado, o jogo de acertar “qual personalidade o zumbi parece?”.
121. The Final Girls, de Todd Strauss-Schulson
(EUA, 2015)
Não só reinventa particularidades dos slashers para derivar nas excelentes homenagens, principalmente para Sexta-feira 13, como também contrabalança sua espirituosidade com o drama presente no relacionamento entre mãe e filha – resultando na cena mais linda do filme.
FYC: A abertura com Kumba-no e Bette Davis Eyes.
120. Willow Creek, de Bobcat Goldthwait
(EUA, 2013)
O terror de Bobcat Goldthwait é o que se mais aproxima da essência de A Bruxa de Blair, dos muitos mockumentarys e found footages apresentados nos últimos anos. Flertando com a tensão na continuidade, o cineasta também se esforça para oferecer a verossimilhança nos erros, creditando uma fragilidade, que, automaticamente, cria uma empatia imensa.
FYC: A cena da barraca.
119. Banquete no Inferno, de John Gulager
(Feast. EUA, 2005)
Propositalmente ridículo, usa sua estupidez para criar gags geniais, como as que faz com os destinos de seus personagens.
FYC: A apresentação individual dos protagonistas.
118. Stake Land – Anoitecer Violento, de Jim Mickle
(EUA, 2010)
Num ambiente tomado pelo caos, vampiros, fundamentalistas assassinos e canibais, a esperança é frágil e a sobrevivência clama pela frieza emocional. Assim, as vidas de Martin e Mister estão bem distantes da comparação mais óbvia (o homem e o garoto de A Estrada), pois aqui a morte só é uma dádiva se você conseguir escapar da condenação.
FYC: No meio da tragédia, uma canção e uma menina fisgam a atenção de nosso protagonista.
117. Clímax, de Gaspar Noé
(Bélgica, 2018)
Se vivemos na arte de representar, ao nos colocarmos diante de nós mesmos, o horror é natural e ilimitado. Gaspar Noé nos afronta com a linha tênue de nossa moral e convivência em sociedade neste perturbador Clímax, onde o único momento de prazer que conseguimos é num gozo rápido, enquanto a civilização continua em ruínas do lado de fora de nosso quarto.
FYC: A incrível sequência de dança inicial.
116. Luz, de Tilman Singer
(Alemanha, 2018)
Há algo enigmático em Luz que remete ao primeiro cinema de David Cronenberg, onde a psique e a sexualidade se conversavam com naturalidade e blasfêmia – na concepção cristã. A personagem-título é perseguida por uma entidade demoníaca apaixonada, os coadjuvantes são peões dentro da jornada e o espectador faz parte da hipnose do segundo ato, onde nunca se tem certeza no que se deve ou não acreditar. A granulação nos faz observar a evocação de Tilman como um clássico do horror da passagem dos anos 60 para os 70. Um debut assombroso e raro sobre possessão.
FYC: Uma simulação na delegacia.
115. Dumplings, de Fruit Chan
(Jiao zi. Hong Kong, 2004)
Chan aprofunda ainda mais seu curta presente no filme Três… Extremos, mostrando-nos o quão a história rende um atestado assombroso sobre limites, consequências e tortura psicológica.
FYC: Os “pequenos” são cozinhados.
114. Arraste-me para o Inferno, de Sam Raimi
(Drag Me to Hell. EUA, 2009)
Depois de sair da franquia do aracnídeo, Sam Raimi decidiu reviver o começo de sua carreira ao filmar o sobrenatural de Arraste-me para o Inferno com o humor ácido que se tornou a assinatura de seu maior clássico, Evil Dead.
FYC: A luta no carro.
113. O Que Fazemos Nas Sombras, de Taika Waititi e Jemaine Clem
(What We Do in the Shadows. Nova Zelândia, 2014)
É tão inteligente e espirituoso quanto poderíamos esperar de um documentário sobre vampiros descrevendo suas rotinas.
FYC: O vampiro clássico é queimado por um descuido.
112. Entidade, de Scott Derrickson
(Sinister. EUA, 2012)
Do realizador de O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade mora na ideia de que o arrepio é tão importante quanto os sustos, assim, desenvolvendo o mistério e os sustos conforme as descobertas do protagonista.
FYC: As crianças no corredor.
111. Sede de Sangue, de Park Chan-wook
(Bakjwi. Coreia do Sul, 2009)
No terror de Chan-wook Park nos envolvemos na situação enfrentada pelo padre Sang-hyeon e suas consequências.
FYC: No terceiro ato, o sangue jorra em um corredor estéril.
110. Medo, de Kim Jee-woon
(Janghwa, Hongryeon. Coreia do Sul, 2003)
Preocupa-se com o desenvolvimento de cada membro da família, fazendo com que tudo seja importante até o clímax, principalmente ao analisarmos o quanto Bae Soo-mi enfrentou seus próprios demônios durante todo o percurso.
FYC: Soo-mi é surpreendida por uma aparição na cozinha.
109. Stage Fright, de Jerome Sable
(Canadá, 2014)
Além de pontuar interessantes homenagens (Rocky Horror Picture Show, Fantasma da Ópera, Terror na Ópera e até Massacre da Serra Elétrica), uma surpreendentemente eficaz mistura de slasher, musical e comédia.
FYC: O número musical que inicia o longa.
108. Jogos Mortais, de James Wan
(Saw. EUA, 2004)
“Não olhe o elefante no meio da sala”.
FYC: A única solução de tirar as correntes é um médico amputar seu pé.
107. Maria e João: O Conto das Bruxas, de Ozz Perkins
(Gretel & Hansel. Canadá, 2020)
Maria e João: O Conto das Bruxas captura a magia de um conto de fadas, sem que se esqueça de conferir uma assustadora prosa cheia de possibilidades na mente de uma criança. É um filme com influências expressionistas sutis e fantásticas.
FYC: Maria desce ao porão da bruxa e observamos a circunferência perfeita de um caixão se formando sobre seu corpo.
106. Distúrbio Fatal, de Simon Rumley
(The Living and the Dead. Inglaterra, 2006)
Algumas (desmedidas) decisões narrativas do diretor influenciam no resultado final, mas muito mais do que um filme de suspense, o excelente Simon Ruley se esforça para passar o mais intenso e doloroso concebível.
FYC: A alternância que Rumley desenvolve entre realidade e alucinação.
105. Espinha do Diabo, de Guillermo del Toro
(El espinazo del diablo. México/Espanha, 2001)
O drama providencial de del Toro é marcante, num dos melhores exemplares mexicanos do terror.
FYC: A cena inicial, onde apenas um enquadramento é o bastante para causar arrepio.
104. Mamãe & Papai, de Steven Sheil
(Mum & Dad. Inglaterra, 2008)
Deixa a sugestão da depravação sexual aliada com o sadismo psicótico para tratá-la como literal. Funciona. Do mesmo medo, Steven Sheil expõe relações incestuosas naturalmente, assim como a influência familiar na violência – tornando um aparentemente “inofensivo” terror numa obra bem mais profunda.
FYC: Fazendo de tudo para sair de seu cativeiro, a protagonista consegue encontrar um celular.
103. Enquanto Você Dorme, de Jaume Balagueró
(Mientras Duermes. Espanha, 2011)
Jaume Balagueró sempre foi a parte mais talentosa da dupla formada por ele e Paco Plaza, na minha impressão. Enquanto Você Dorme conta a história de um porteiro que, no auge de sua obsessão, passa a entrar na casa de uma moradora enquanto ela dorme.
FYC: A primeiro contato com César debaixo da cama.
102. Excision, de Richard Bates Jr.
(EUA, 2012)
Entrando no estado de espírito da protagonista, o jovem Richard Bates Jr. oferece uma estranheza quase psicótica genuína e instigante. Outro filhote de Cronenberg.
FYC: O sonho sanguinário e sexual de Pauline com a popularidade.
101. Alta Tensão, de Alexandre Aja
(Haute tension. França, 2003)
O slasher que colocou os holofotes em Alexandre Aja gira em torno de duas estudantes que vão para a casa de campo de uma amiga e são atormentadas por um assassino. Os destaques são para as cenas com machado.
FYC: A identidade do assassino.
100. Nevoeiro, de Frank Darabont
(The Mist. EUA, 2007)
Quase um especialista em adaptar obras do escritor Stephen King, Frank Darabont retornou aos textos do americano em 2008 no suspense O Nevoeiro, que girava em torno de um grupo de pessoas de uma cidadezinha americana encurralado num supermercado. Lá fora? Monstros tentavam entrar. O cineasta francês pega a essência da história de King para justamente tratar os maiores catalisadores da tensão da história: a falta de liberdade, doutrina religiosa e a dinâmica de pessoas diante da tragédia.
FYC: O personagem de Thomas Jane decide usar sua arma, antes de ser engolido pelos monstros lá fora.
99. Hospedeiro, de Joon-ho Bong
(Gwoemul. Coreia do Sul. 2006)
Logo no primeiro ato, um monstro emerge de um rio e passa a atacar as pessoas. Durante o dia. Só neste aspecto, a coragem de Joon-ho Bong já deveria ser aplaudida, mas o diretor mantém o nível e ainda aborda as diferenças de uma família.
FYC: A primeira aparição do monstro.
98. Calvaire, de Fabrice Du Welz
(Bélgica, 2004)
Fascinante pela loucura gradativa de seus personagens, a obra de Fabrice Du Welz guarda resquícios fortes de longas dos anos 70/80 (a refeição é uma homenagem quase explícita ao Massacre da Serra Elétrica), bem como nos comprimi durante uma hora e meia numa bolha de sofrimento.
FYC: A dança maníaca num bar.
97. Chamado, de Matthew Parkhill
(The Caller. Porto Rico, 2011)
Como se embarcássemos na mente e na paranoia da personagem, um terror intimista diabólico e assustador.
FYC: A medida que as ligações vão chegando, a voz cada vez mais calma do outro lado assusta.
96. Extermínio 2, de Juan Carlos Fresnadillo
(28 Weeks Later. Reino Unido/Espanha, 2007)
Seis meses depois do alastramento do vírus do primeiro filme, Juan Carlos Fresnadillo discorre sobre as sequelas provocadas no planeta pela epidemia. A humanidade construiu fortes, os limites das cidades não estão disponíveis para aventuras e os zumbis morreram de fome por não encontrar presas. Um argumento excelente e que resulta num filme idem.
FYC: Após a contenção, os soldados têm que decidir se atiram ou não nas pessoas expostas no pátio.
95. Colina Escarlate, de Guillermo del Toro
(CrimsonPeak. EUA, 2015)
“Duas pequenas borboletas pousam numa lamparina, que aos poucos perde sua intensa luz natural e parece ser sugada por elas”. O trecho anterior poderia ser o princípio de uma história trágica de Edgar Allan Poe, mas não o é. É o início de uma bela metáfora cultivada por Guillermo del Toro em sua narrativa, A Colina Escarlate, onde o espectro mais vital de uma família, vinculado à radiante forma de Mia Wasikowska, torna-se atormentado por dois imagos (se nos permitirmos continuar na metáfora), os quais passam a se alimentar de sua juventude, “pureza virgem”, dinheiro e solidão.
FYC: O confronto feminino ao final muda a lógica masculina comum ao tema.
94. Três… Extremos, de Takashi Miike, Fruit Chan e Park Chan-wook
(Saam gaang yi. Coréia do Sul, 2004)
Três… exemplos de choque e perturbação, onde Takashi Miike arranca tensão de um plástico, Fruit Chan usa o mau gosto como impacto e Chan-wook Park une horror e drama exponencialmente.
FYC: O curta de Park ao trazer na comida a sua pancada.
93. Na Teia do Mal, de Jaume Balagueró
(Para entrar a vivir. Espanha, 2006)
Exemplar da antologia Películas para no dormir, Na Teia do Mal é de Jaume Balagueró, o lado mais talentosa da dupla responsável por REC. Mergulhado em um clima Kingniano, a solidez da narrativa impressiona, ao abordar um casal que se muda para um prédio estranho.
FYC: Entramos no “covil”, onde outras pessoas abduzidas são mantidas.
92. From Within, de Phedon Papamichael
(EUA, 2008)
Numa trama inspirada de bruxaria, o que mais assusta é o fanatismo religioso.
FYC: Já na primeira cena, nós observamos um pacto suicida.
91. Across the River, de Lorenzo Bianchini
(Oltre il guado. Itália, 2013)
Os americanos possuem um adjetivo perfeito para filmes como o italiano Oltre il guado (numa tradução literal, Além do Rio): creepy. A denúncia do medo pode ser vista na solidão obliterante do personagem ou nos acordes melancólicos de violino presentes na trilha sonora. Um filme em que o som é o maior companheiro da direção ao aterrorizar o protagonista. As armadilhas estão nas sutilezas.
FYC: O protagonista pensa ter visto algo através de seu computador e vai até o local.
90. Olhos de Júlia, de Guillem Morales
(Los ojos de Julia. Espanha, 2010)
“Tente não forçar a vista.” A afirmação pode render um grande contexto narrativo? Guillem Morales responde a pergunta em 1h50min de tensão e suspense, dentro de uma estética admirável.
FYC: Julia percebe que está na casa do assassino.
89. Outro Lado da Porta, de Johannes Roberts
(The Other Side of the Door. Reino Unido/India, 2016)
Uma mãe perde seu filho e decide pedir perdão ao seu espírito. Para isso, ela entra no misticismo indiano e embarca num caminho sem volta. Recheado de sustos, o maior destaque ainda assim é a atuação de Sarah Wayne.
FYC: A mãe percebe que algo voltou com ela.
88. Invasora, de Alexandre Bustillo e Julien Maury
(À l’intérieur. França, 2007)
Na parceria entre Bustillo e Maury, a coragem de colocar uma mulher grávida em tamanho sofrimento físico é motivo de aclamação. Ao mesmo tempo em que o sangue cresce conforme a narrativa e culmina num clímax excelente.
FYC: A sequência inicial.
87. Eu Prendi o Diabo, de Josh Lobo
(I Trapped the Devil. EUA, 2019)
“Há um homem no porão”.
Algumas frases refletem perfeitamente a simplicidade do terror. É a velha dinâmica do que é suspense e a surpresa. Se parafrasearmos o gênio Hitchcock, nós temos algo no porão. Se soubéssemos desde o início o que havia ali, o suspense seria maior que a surpresa. Josh Lobo quer a valorização de ambos, quando decide trabalhar a atmosfera de paranoia na casa que Steve habita. O cineasta sabe bem o caminho que procura, construindo um filme com a essência do mumblegore e que não deve em nada para o caos letárgico dos filmes de Simon Rumley. Até que você se sinta compelido a dizer: /”meu deus, o que diabos tem naquele porão?” (com o perdão do trocadilho) e ser surpreendido com um final chocante. O mumblegore respira por todo esse I Trapped The Devil.
FYC: A aparência do mal que estava no porão é finalmente revelada.
86. V/H/S/2, de Eduardo Sánchez, Gregg Hale, Simon Barrett, Adam Wingard, Jason Eisener, Gareth Evans e Timo Tjahjanto
(Canadá, 2013)
Notável que tanto a franquia VHS quanto ABCs da Morte procuram ser mais ambiciosos com as antologias de terror dos anos 2000. E é sempre um prazer conhecer novos cineastas e novas ideias do gênero.
FYC: O fundamentalismo presente no curta-metragem de Gareth Evans conduz a um suicídio em massa.
85. La llorona, de Jayro Bustamante
(França/Guatemala, 2019)
A câmera de Jayro Bustamante nos imerge de forma muito clara na história de uma família que carrega um genocídio de milhares de pessoas no seu passado. Aos poucos, o close se afasta de uma pessoa e evidencia dezenas de outras ao redor da pessoa que estava em primeiro plano. Isso será continuamente demonstrado ao decorrer do longa-metragem do guatemalo, que decide falar sobre o macro explorando o micro. De todas as histórias de La Llorona a que já assisti, e colocamos aí os filmes de Damir Catic, H.J. Leonard, René Cardona, Andrés Navia, Ramón Peón e Michael Chaves, é admirável que a mais assustadora seja a de um drama político envolvido no folclore da lenda.
FYC: O homem assombrado pelos choros de alguém acaba atacando sua mulher.
84. Viagem Maldita, de Alexandre Aja
(The Hills Have Eyes. França/EUA, 2006)
Dono de uma das cenas mais repugnantes do cinema de terror contemporâneo, onde um dos nativos estupra uma das jovens protagonistas, Aja esquece o panorama econômico criado por Wes Craven no original, Quadrilha de Sádicos, para enriquecer o terror físico. O resultado é um longa quase tão bom quanto o que o inspirou.
FYC: A cena do estupro.
83. Homem Invisível, de Leigh Whannell
(The Invisible Man. Austrália/Canadá/EUA, 2020)
A primeira imagem de O Homem Invisível é a de uma vítima de abuso nos encarando com os olhos assustados. Ela tenta se desvencilhar do braço masculino que a segura, escancarando a tênue linha entre a segurança e a prisão presente numa relação.O Homem Invisível é um filme sobre os fantasmas de um relacionamento abusivo.
FYC: Uma faca corta o pescoço de uma personagem no restaurante.
82. The Love Witch, de Anna Biller
(EUA, 2016)
Inspirada no auge da Hammer, a diretora Anna Biller constrói uma homenagem maliciosa e deliciosa sobre uma bruxa vingativa. Samantha Robinson é um achado que é capaz de lembrar Barbara Steele como protagonista.
FYC: A conversa num restaurante sobre dominação e submissão.
81. After Midnight, de Jeremy Gardner e Christian Stella
(EUA, 2019)
Jeremy Gardner e Christian Stella criam um belíssimo mumble(g/c)ore que transita entre o romance, o drama e o terror, no qual um homem apaixonado é aprisionado em sua casa devido a monstruosa ausência de sua namorada e passa a ser literalmente atacado por um monstro, todos os dias, após a meia-noite. Estruturalmente fascinante, a montagem aproveita a semelhança entre a ausência e a presença – no primeiro caso, a memória contínua; no outro, o incômodo permanente da madrugada. Na estrutura estabelecida, cenas pacatas e sensíveis mantém o suspense na última voltagem, como que, a qualquer momento, o monstro retornasse e acabasse com o sonho de seu protagonista.
FYC: Abby conversa com seu marido e ambos esperam o monstro aparecer depois da meia-noite.
80. Chalé, de Veronika Franz e Severin Fiala
(The Lodge. Canadá, 2019)
Uma causa cheia de traumas – é como podemos diagnosticar e nos orientar pelo perturbador The Lodge (dos diretores de Boa Noite, Mamãe). Há algo sufocante e debilitador em seu silêncio, que se projeta numa obra que serve de avaliação de um período de tristeza, resgate e de reclusão incômoda. Afinal, grandes espaços podem nos aprisionar e nos tornarem seres diminutos perante o tamanho do que nos cerca. Seus personagens continuam presos aos seus dogmas, suas religiões e suas cruzes (que aparecem continuamente na tela) até o fim. Como num grande filme de terror, a surpresa que aterroriza em The Lodge está no auge do desconforto; o susto – assim – é um coadjuvante de luxo. O terror está, acima de tudo, na perda do instinto de sobrevivência.
FYC: Ao terceiro ato, a protagonista não consegue dissociar mais o real e a ilusão.
79. Pânico na Escola, de Joseph Kahn
(Detention. EUA, 2011)
Uma espécie de Meninas Malvadas para aficionados por terror. Ainda que Joseph Kahn insista em exagerar na dosagem, vez ou outra (e o próprio vilão é uma desculpa para o slasher dos anos 90), Pânico na Escola nunca perde a graça e o cinismo só cresce a partir do segundo ato.
FYC: Os personagens decidem voltar no tempo (!).
78. Mandy, de Panos Cosmatos
(EUA/Bélgica, 2018)
O mundo depressivo de Lars Von Trier com o mundo violento, opressivo e monossilábico de Refn, num filme que carrega variadas referências dentro de sua insanidade – desde Massacre da Serra Elétrica até aos cultos modernos (Urge, Borgman, The Void, The Devil’s Candy, Demônio de Neon, etc). Mandy, aliás, como poucos longas até então, conseguiu compreender em qual lugar que está inserido dentro de um gênero que há um bom tempo ensaia um caminho ancorado mais do que nunca no arthouse; é uma obra, acima de tudo, que flerta com o passado do terror e seu presente.
FYC: “Então, o que você vai caçar?” / “Evangélicos”.
77. Sem Saída, de James Watkins
(Eden Lake. Reino Unido, 2008)
Um jovem casal de férias tenta escapar da realidade urbana e passa um final de semana, isolados, em uma casa à beira de um lago. O problema começa a aparecer no instante em que um grupo de adolescentes rebeldes os persegue, culminando em uma grande tortura psicológica e física. O mais impressionante da trama idealizada por Watkins, neste caso, não é transformar algo batido em um longa-metragem cheio de adrenalina (algo que também contém), mas dar uma profundidade humana gritante – culminando em um clímax singular e assustador. Não é o susto ou o gore que o diretor procura, mas esclarecer que a própria maneira como tratamos uns aos outros interferem na criação de monstros antissociais.
FYC: Jenny busca abrigo em uma casa, sem saber quem são os donos.
76. Vermelho, Branco e Azul, de Simon Rumley
(Red White & Blue. Reino Unido/EUA, 2010)
O grande fator positivo das obras de Simon Rumley é a exposição do caos em que seus personagens se encontram e a constante destruição interna de seus protagonistas. Assim, não é impossível compreender as medidas extremas de seus atos que acontecem no terceiro ato. Neste filme, a montagem não é diferente, beneficiando, igualmente, o sexo como ferramenta para o terror e os tons musicais.
FYC: A vingança de Nate.
75. Menina da Porta ao Lado, de Gregory Wilson
(The Girl Next Door. EUA, 2007)
Assassinos sobrenaturais, casas mal-assombradas, sci-fis, maldições e monstros dominam o terror há tempo, mas, no final, Gregory Wilson prova que nada pode ser mais cruel ou imaginativo que a própria depravação humana. A Menina da Porta ao Lado é um perfeito exemplo doentio.
FYC: A passividade de todos diante do sofrimento da menina.
74. Tigers Are Not Afraid, de Issa López
(Vuelven. México, 2017)
A fábula de Issa López é sobre cinco jovens que se veem diante de uma cidade violenta e aterrorizante, onde só podem contar consigo mesmos para fugir de sequestradores, torturadores e assassinos. Com momentos expressivamente sensíveis, a diretora deixa o horror de sua obra ser ainda mais honesto – misturando um pouco de ingenuidade ao tom opressivo. Mostra, além disso, que nenhuma sociedade conseguirá esconder seus próprios fantasmas.
FYC: Os fantasmas aparecem por uma última vez no terceiro ato.
73. Abismo do Medo, de Neil Marshall
(The Descent. Reino Unido, 2005)
É bastante seleta a lista de horrores que já são taxados de influentes logo na estreia. Abismo do Medo foi um desses filmes, em 2005, quando se tornou algo muito mais do que uma aventura sobrenatural. No longa, a aposta de Marshall foi nos ambientar com a claustrofobia das cavernas e absorver os mesmos receios das mulheres centros de nossas atenções.
FYC: Após uma série de ataques, uma personagem é deixada para trás.
72. Exorcismo de Emily Rose, de Scott Derrickson
(The Exorcism of Emily Rose. EUA, 2005)
A partir dos anos 2000, grande parte dos filmes que tratavam o sobrenatural com um olhar cético eram provenientes de tramas com exorcismos. É a velha charada: deparar o descrente com o extremo e observar sua resposta. Scott Derrickson foi o que mais se aproximou em estabelecer seu diálogo entre fé e ciência, em 2005, no excepcional O Exorcismo de Emily Rose, que acompanhava o julgamento de um padre acusado de ser negligente num caso da jovem personagem-título.
FYC: Durante a primeira manifestação demoníaca no quarto da faculdade, o mal que espreita Emily a subjuga da forma mais cruel que se pode imaginar, tirando sua inocência numa forte cena de abuso.
71. Massacre da Serra Elétrica, de Marcus Nispel
(Texas Chainsaw Massacre. EUA, 2003)
Antes de se aventurar em tragédias cinematográficas do quilate de Desbravadores, Marcus Nispel foi o responsável pelo remake do filme mais aclamado de Tobe Hooper. Usando um dos principais artifícios do original, os flashes com a exposição fotográfica, o filme de Nispel encontra tempo suficiente para criar um elo com aquele grupo através de particularidades e envolve-los quase num filme (pontualmente) policial.
FYC: A trajetória de uma bala usada num suicídio é a nossa saída da felicidade dos amigos para o drama.
70. It – A Coisa, de Andy Muschetti
(EUA, 2017)
Poucas obras de terror dos últimos anos contaram com tanta sensibilidade e com uma interação expressiva entre o grupo de protagonistas, como neste filme de Andy Muschetti. O horror infanto-juvenil de It consegue potencializaro sofrimento e a personalidade de cada um dos garotos. Já é um clássico.
FYC: A primeira vítima, numa cena maliciosa e perturbadora, no bueiro.
69. Possuídos, de William Friedkin
(Bug. Alemanha/EUA, 2006)
O horror mental enfrentado por veteranos de guerra não é um assunto novo ou o qual Friedkin foi o primeiro a dar uma maior ênfase; a ambição de Possuídos é simples, na verdade: dentro de um pequeno quarto de hotel, fazer com que o espectador entre na paranoia sintomática de dois personagens.
FYC: Pressionada por Shannon para se lembrar do filho, Judd começa a perder o controle.
68. Confissões, de Tetsuya Nakashima
(Kokuhaku. Japão, 2010)
A intenção de Nakashima é pouco sutil em como as pessoas refletem as ações que as cercam, mas isso não afeta a frieza com que a vingança da professora é tratada.
FYC: A revelação da professora de que havia colocado algo no lanche dos alunos.
67. Fim da Linha, de Maurice Devereaux
(End of the Line. Canadá, 2007)
Seu final pode destoar do semblante que nos envolve, trazendo uma perigosa mensagem, porém é bastante incômodo ao sublinha um panorama verossímil socialmente, onde fanáticos usam as palavras de uma “força suprema” para espalhar seu ódio e apreço por chacinas.
FYC: Três fundamentalistas recebem o chamado: é hora.
66. Starry Eyes, de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer
(Bélgica, 2014)
O extremo da exploração artística, da vaidade e da ambição levados literalmente ao mundo de uma atriz amadora espelham na narrativa um medo claustrofóbico e individual proeminente.
FYC: Ao tentar se contratada como atriz, os flashes da máquina fotográfica nos imergem num mundo de sofrimento físico.
65. A Pele que Habito, de Pedro Almodóvar
(La piel que habito. Espanha, 2011)
O terror de Almodóvar é o fascínio pelo corpo, pela identidade sexual e o comportamento. Nesta perspectiva, a principal revelação acerca da condição com que divide a cama com o médico interpretado por Antonio Banderas se torna importantíssima e assustadora.
FYC: O grande flashback que demonstra a origem de Vera.
64. Honeymoon, de Leigh Janiak
(EUA, 2014)
Com uma rara abordagem feminina acerca do receio de não saber com quem estar dividindo a mesma cama, Honeymoon é naturalmente tenso e expõe a agressividade de sua trama na loucura/paranoia crescentes e sintomáticas.
FYC: Bea é encontrada no banheiro tirando algo de dentro de si.
63. Mártires, de Pascal Laugier
(Martyrs. França, 2008)
Uma das promessas de sua geração, o diretor Pascal Laugier surgiu definitivamente no cenário comercial em 2008 com o triste Mártires, cujo principal foco só é revelado no segundo ato. Até lá, a obra parece convencional: uma família tem a casa invadida por estranhos que começam a aterrorizar todos e deixam uma pessoa viva para a tortura. O motivo disso tudo, é que estabelece o longa-metragem como um dos grandes terrores da França da última década.
FYC: Após saber a resposta para suas dúvidas, uma senhora decide não compartilhar o segredo com mais ninguém.
62. Zumbilândia, de Ruben Fleischer
(EUA, 2010)
Assim como Guia do Mochileiro de Galáxias, Zumbilândia parte da concepção de que o espectador já aceita a natureza absurda desse tipo de narrativa, deixando com que as brincadeiras metalinguísticas e a sátira da própria obra a transforme em algo imprevisível.
FYC: Bill Murray como zumbi.
61. Um Lugar na Inglaterra, de Ben Wheatley
(A Field in England. Reino Unido, 2013)
Ben Wheatley continua seu passeio pelos gêneros, que cada vez mais intensifica o vasto poder narrativo. Aqui, é a exposição da loucura – de uma forma única, surrealista e com um timing cômico impiedoso.
FYC: Os diálogos cínicos de Wheatley caem como uma luva no cenário abstrato que seus personagens vivem.
60. Cloverfield, de Matt Reeves
(EUA, 2008)
Na maré proveniente dos found footages, Cloverfield encontrou a emoção que a intimidade das fitas encontradas podem proporcionar ao espectador. Assim, a tentativa desesperada de Jason achar Lily numa Nova York sitiada é, ao mesmo tempo, lindo e carregado.
FYC: No prédio de Lily, as mãos do casal se procuram.
59. The Void, de Jeemy Gillespie e Steven Kostanski
(Canadá, 2016)
Uma equipe fica presa num hospital rural, após ser cercada por um grupo encapuzado. Um pesadelo violento e fascinante.
FYC: O ato final.
58. Chamado, de Gore Verbinski
(The Ring. EUA, 2002)
Remake do japonês Ringu, O Chamado é um dos melhores filmes do camaleão Gore Verbinski. Priorizando mais os sustos do que a obra oriental, ainda que equilibre o suspense psicológico, a história aborda a relação entre uma repórter que investiga a morte de uma pessoa que assistiu a famosa fita e seu filho.
FYC: O calafrio provocado pela voz ao telefone.
57. Possuída, de John Fawcett
(Ginger Snaps. Canadá, 2000)
A associação da afloração da sexualidade feminina com a transformação licantrópica origina um dos melhores exemplares do subgênero.
FYC: Ginger não aceita o bullying num jogo de hockey na grama.
56. Berberian Sound Studio, de Peter Strickland
(Reino Unido, 2012)
Muito mais original que o declínio psicológico de alguém que se encontra em uma posição desconfortável, Peter Strickland realiza um fabuloso retrato daquilo que nos deixa tão apreensivos quanto empolgados: as sensações provocadas por um filme de horror. Ao mesmo tempo em que organiza quase uma homenagem ao trabalho de um dos mais subestimados realizadores: o compositor.
FYC: Dentro do estúdio, o grito cada vez mais alto e retumbante.
55. Housebound, de Gerard Johnstone
(Nova Zelândia, 2014)
O filme que Tobe Hooper (Poltergeist) tentou fazer em toda a sua carreira.
FYC: Nunca um toque de celular assustou tanto.
54. Bliss, de Joe Begos
(EUA, 2019)
Algo incomodativo e profano ronda cada plano do filme protagonizado por uma espetacular Dora Madison, Bliss. A heresia não está apenas na pintura, mas na posição crucificada e anestesiante com que Dezzy aparece em sua cama, próxima da pintura infernal que toma seus dias. Seu desejo por sangue não é só literal, como também é metafórico. Ao dar o dela pela arte, ela pede algo humano em troca. O grito atormentado por ajuda é ensurdecedor. Surpreendente, no mínimo.
FYC: Aos poucos, o quadro evidencia o grotesco que ronda a personagem.
53. Culpa, de Riley Stearns
(Faults. EUA, 2014)
Traços de Martha Marcy Marlene e Borgman numa trama sombria e insana, mas palpável e agoniante, onde a aleatoriedade das situações que incidem e a tentação de usufruir do controle sobre o outro demarcam o território da narrativa.
FYC: Durante uma espécie de pesadelo real, Ansel observa Claire fazendo sexo com os pais.
52. Fitas de Poughkeepsie, de John Erick Dowdle
(EUA, 2007)
Da mesma forma que A Tortura do Medo nos insere na mente e vida do protagonista, As Fitas de Poughkeepsie nos joga no submundo caótico e depravado de um serial killer, onde uma investigação nos guia de maneira inata e assustadora.
FYC: Nossa impotência diante dos assassinatos.
51. Convidado, de Adam Wingard
(The Guest. Reino Unido, 2014)
Num ambiente familiar corrompido pela ausência, a influência da esperança e proteção, na figura de um jovem misterioso, inclina aqueles personagens à passividade. Adam Wingard se torna aqui um dos maiores cineastas de sua geração.
FYC: Após criar uma empatia com o pequeno Luke, David se mete em uma “briga” de bar.
50. A Estranha Cor das Lágrimas de seu Corpo, de Hélène Cattet e Bruno Forzani
(L’étrange couleur des larmes de ton corps. Bélgica, 2013)
Caso buscássemos na fonte do giallo, o modelo mais incisivo cultivado pelos cineastas do gênero, eu assumo que a resposta seria o olhar. Muito antes do uso abundante das cores para definir a cenografia, a procura de diretores como Mario Bava, Dario Argento, Lucio Fulci era pavimentada pelo padrão da experiência ocular. O espetáculo visual do giallo nascia da exposição gráfica do assassinato, da sexualidade e do fascínio pelo crime. A importância do olhar era crucial tanto na investigação decorrente do enredo quanto da percepção exclusiva a quem se contava a história. No entanto, em A Estranha Cor das Lágrimas do seu Corpo, além da busca pelo olhar, que chega a seu auge numa cena de confronto entre o detetive e o marido à procura da esposa, o padrão narrativo é a inconsciência. A subjetividade da mente é a resposta que a dupla Hélène Cattet e Bruno Forzani almeja ao trabalhar a paranoia, a alucinação e o crime que intercede à vida de Dan. A metáfora do crime, do prazer e da paranoia. O nosso corpo e nosso inconsciente servem como base para um desnude psicológico. No neo-giallo de Cattet e Forzani, o olhar é fruto uma simetria dantesca.
FYC: Um split-screen aponta Dan e o detetive com a mesma intenção, apesar das perspectivas e semblantes diferentes.
49. Farol, de Robert Eggers
(Canadá, 2019)
A primeira imagem do novo filme de Robert Eggers, do aclamado A Bruxa, é um grandioso farol, em uma ilha afastada, que direciona os dois pescadores Thomas Wake (Williem Dafoe) e Ephraim Winslow (Robert Pattinson) até seu acesso. A metáfora do norte-americano sobre a vida e a morte é encaminhada neste princípio: o que nos traz e o que nos leva? O que está entre o início e o fim? A luz. Que, veja só, pode ser compreendida de diferentes formas, como esperança, vida, morte, fé, Deus ou, simplesmente, o fim da linha. É ela que, igualmente, rege o mundo daqueles dois pescadores, os quais vivem seus dias na esperança de chegar o momento de ir embora ou ter contato com a tão sonhada luz.
FYC: What? What?
48. The Devil’s Candy, de Sean Byrne
(EUA, 2015)
Um pintor é possuído e embarca numa crescente paranoia, após se mudar para uma casa na zona rural do Texas.
FYC: As pinturas de Jesse.
47. Mar Negro, de Rodrigo Aragão
(Brasil, 2013)
Fechando a trilogia claramente influenciada por Raimi, Rodrigo Aragão deposita no uso excessivo do gore sua adrenalina, culminando num dos maiores exemplares brasileiros do gênero.
FYC: Personagem começa a metralhar todos os zumbis da casa.
46. The Wailling, de Na Hong-jin
(Coréia do Sul, 2016)
Várias histórias parecem acontecer ao mesmo tempo neste doce e aterrorizante filme de Na Hong-jin sobre a chegada de um estranho numa vila, que culmina em estranhos acontecimentos.
FYC: O exorcismo.
45. Behind the Mask: The Rise of Leslie Vernon, de Scott Glosserman
(EUA, 2006)
Intercalando tom documental com slasher, o enfoque surreal nos assassinos ao invés das vítimas é um sopro de criatividade invejável, algo que rende acréscimos metalinguísticos excepcionais e inteligentes – transformando um convencional “final girl movie” em um intrigante exemplar sobre o terror.
FYC: Taylor indica a história do slasher na cena inicial com uma abordagem de entrevista curiosa.
44. Convite, de Karyn Kusama
(EUA, 2015)
Tenso e intrigante, um jantar entre amigos se transforma numa coisa muito mais sombria. Na mesma linha de End of the Line.
FYC: Ao sair da casa, percebe-se que aquilo era muito maior do que se imaginava.
43. Demônio de Neon, de Nicolas Winding Refn
(Dinamarca, 2016)
Ao tratar o vício estético como uma devassidão sintomática que se alastra pela nossa mente em ondas cerebrais que teriam a missão de proteger nosso autocontrole, no livro Monstros Invisíveis, Chuck Palahniuk brinca com a desfiguração, considerando-a uma epítome do espetáculo: quanto vocês pagariam para ver isso? Se para outro autor americano celebrado, David Foster Wallace, as cicatrizes representavam a crueza do pensamento humano individual, para Palahniuk, elas expõem nossos ecos sociais. É a principal intenção de Nicolas Winding Refn se aventurar por essa natureza: o consumo levado à última potência. Demônio de Neon não se restringe ao passeio pela estética; ele tenta racionalizá-la, na única forma que poderia: por meio da imagem.
FYC: Jesse está sentada no capô do carro, falando sobre a lua, enquanto discorre sobre o satélite como um grande olho, sempre a observando.
42. Trabalhar Cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas
(Brasil, 2011)
Utiliza o terror da obra apenas para especificar o trauma de cada um de seus personagens, como a dona de uma mercearia com o medo de ficar falida ou ter colocado seu dinheiro em algo condenado, interessando-se muito mais na profundidade dos protagonistas do que o sobrenatural da história.
FYC: Na sala, alguém faz o som de um morcego.
41. Tucker & Dale Contra o Mal, de Eli Craig
(Canadá, 2010)
Desde Pânico, uma autoparódia não conseguia ser tão brilhante quanto a trama de dois estranhos homens que moram numa cabana e são confundidos com assassinos por um grupo de jovens.
FYC: Ao pular em direção de um dos irmãos, jovem acaba entrando numa máquina de sovar madeira.
40. Culto, de Justin Benson e Aaron Moorhead
(The Endless. EUA, 2017)
“O fim chegou”, dizia o rabisco pestilencial. (…) O Dr. Torres sabia, mas o choque o matou. Não pôde suportar o que teria de fazer; tinha de me meter num lugar estranho e escuro, mas atentou à minha carta e me fez voltar, com seus cuidados. Tinha de ser feito à minha maneira, pois vês: eu morri naquela época, há dezoito anos.” [Ar Frio. Lovecraft, H.P.]. Arrisco dizer que The Endless é uma das homenagens mais bonitas que o cinema já fez para H.P. Lovecraft. É muito maior que algo sobre um culto. É uma obra obra próxima da perfeição a respeito do processo de criação e o nosso medo de ficarmos nos repetindo.
FYC: O filme mais famoso dos cineastas é repetido numa sequência.
39. Rastro de Maldade, de S. Craig Zahler
(BoneTomahawk. EUA, 2015)
Um xerife junta força com outras pessoas para resgatar uma garota sequestrada. O cinema de Craig Zahler na sua alta voltagem de violência.
FYC: Somos jogados numa trama inesperada, na segunda parte do filme.
38. Crimes Temporais, de Nacho Vigalondo
(Los cronocrímenes. Espanha, 2007)
Nacho Vigalondo desponta como uma promessa como roteirista/diretor ao gerir o mistério da sua trama ficcional até o clímax – sem nunca soar prosaico ou banal em como lida com a viagem no tempo.
FYC: A identidade do assassino.
37. A Dark Song, de Liam Gavin
(Irlanda, 2016)
Novamente, uma mãe enlutada contrata um ocultista para contatar seu filho morto. Ao longo dos dias, a trama vai ficando cada vez mais assustadora.
FYC: O primeiro contato.
36. Thelma, de Joachim Trier
(Dinamarca, 2016)
Em uma das cenas mais lindas do filme, Thelma experimenta o prazer numa alucinação despertada não pela droga, mas pela manifestação involuntária de tesão. A serpente que adentra seu corpo, como se o pecado estivesse se estabelecendo ali, a afasta do que sempre a reprimiu, a religiosidade. A descoberta de sua verdadeira identidade proposta pelo cineasta vincula o sobrenatural, sim, mas os elementos de horror da obra são cúmplices da natureza humana. Jamais ilógicos. Se Carrie, do De Palma, fosse feito nos dias atuais, eu também suspeito que ele seria algo similar a Thelma.
FYC: Como dito, a cena em que uma serpente entra no corpo da personagem-título.
35. Orfanato, de J. A. Bayona
(El Orfanato. Espanha/México, 2007)
Até onde você iria para resgatar seu filho? Laura é uma dessas mães inesquecíveis, que nunca desiste de encontrar o pequeno Simón, de 7 anos, que desaparece do orfanato.
FYC: Na cena final, Laura e seu instinto materno prevalecem a qualquer coisa.
34. Atividade Paranormal, de Oren Peli
(Paranormal Activity. EUA, 2007)
Uma das obras mais importantes do terror contemporâneo. Foi aqui que o terror independente voltou a se evidenciar como algo rentabilíssimo.
FYC: A protagonista é puxada pelo pé de seu quarto.
33. Hotel da Morte, de Ti West
(The Innkeepers. EUA, 2011)
Se em outros longas, o proeminente Ti West já indicava seu apreço pelos tons setentistas e oitentistas do terror, Hotel da Morte é uma espécie de remake de O Iluminado, onde os dois últimos funcionários de um hotel condenado tentam descobrir os segredos da arquitetura.
FYC: A sintonia de Sara Paxton e Pat Healy é inesquecível, como também o uso do plano holandês e da grande angular no indecifrável corredor do Yankee Pedlar Inn.
32. Sobrenatural, de James Wan
(Insidious. EUA, 2013)
Onde James Wan começa a colocar o pé na história do terror, em que referências clássicas, a trilha sonora invasiva, o vermelho acentuado, a fotografia ressaltando os cômodos de uma casa, tudo parece ocorrer sem duvidar da inteligência de quem assiste ao filme. Nosso primeiro belo contato com os Lambert, numa grandíssima homenagem a Argento e Poltergeist.
FYC: A família decide simplesmente abandonar a casa, quando julgam estarem sendo mal assombrados. O problema é que o mal não estava na casa, mas no inconsciente do filho. Algo que nos leva para as duas melhores cenas: a primeira aparição na nova casa e o pai ingressando no limbo.
31. Cura, de Gore Verbinski
(Alemanha/EUA, 2016)
Jason Isaacs personifica o diretor de uma instituição psiquiátrica com uma riqueza de nuances admirável, onde se dá para perceber diversas homenagens as múltiplas facetas de Vincent Price nos anos 60, com seus doutores dispostos a todos os tipos de sacrifícios – e o exagero teatral característico dessas personas. Volmer é Roderick Usher, é Nicholas Medina, é Erasmus Craven, é Robert Morgan, é Prince Prospero. Um extremista que chegou até onde muitos não chegaram: a descoberta da imortalidade. A cura da morte.
FYC: Volmer se mantém calmo, enquanto o protagonista perde o controle durante um almoço.
30. Borgman, de Alex van Warmerdam
(Holanda, 2013)
Dentro de uma perspectiva de seita satânica e estabelecendo dicas pontuais sobre o que estamos observando acontecer àquela família, Alex van Warmerdam realiza uma das obras de suspense mais marcantes dos últimos anos – criando algo sempre imprevisível e interessante.
FYC: Indicando que algo está para acontecer e intercalando com mensagens religiosas, conhecemos o lugar que Camiel Borgman habitava.
29. Suspiria, de Luca Guadagnino
(Alemanha/Itália, 2018)
A alegoria de Luca Guadagnino transita por libertação, paranoia e ambiguidade, numa ótica lacaniana que pode ser debatida por horas. É um filme um pouco mais intimista do que seu original, ainda que carregue exatamente o que a obra-prima de Dário Argento trazia – uma espécie de pesadelo pessoal ficcionalizada pelo seu realizador. Enquanto Argento se preocupava com a estrutura, Luca se interessa pela psique.
FYC: A dança ritualística do desejo, da carne e da entrega.
28. Todo Mundo Quase Morto, de Edgar Wright
(Shaun of the Dead. Reino Unido, 2004)
A combinação cômica/ação de Edgar Wright é o ponto alto da trama de jovens que não percebem, num primeiro momento, estarem em um apocalipse zumbi.
FYC: Shaun e Ed jogam discos contra um zumbi que caminha até eles.
27. Halloween, de David Gordon Green
(EUA, 2018)
Certos medos nunca morrem. Podemos enclausurar o terror, mantê-lo encolhido no centro de um tabuleiro de um jogo de damas, cujo objetivo é imobilizar a peça inimiga, mas o medo permanecerá lá, mesmo inaudível, esperando o momento certo para ressurgir. Podem-se passar anos, a memória de um trauma jamais apagará. Priorizar-se-á outras coisas, ocultando uma determinada informação por um período de tempo, porém ela jamais morrerá. É o que nos evidencia desde o início o novo Halloween, de David Gordon Green, que está exatamente preocupado em falar sobre como podemos reagir ao episódio traumático.
FYC: Os pacientes dentro de um manicômio começam a gritar ao redor de Michael, o único calado e no centro do quadro.
26. Amizade Desfeita, de Levan Gabriadze
(Unfriended. EUA/Rússia, 2014)
Arrisco dizer que é o filme definitivo que lida com o sobrenatural no mundo cibernético. Amizade Desfeita acaba não só entrando na vida de jovens sensíveis com a morte de uma antiga amiga, mas também navegando por coisas tão banais, simples e possíveis de acontecer – o que só aumenta a verossimilhança e o medo.
FYC: O carregamento de um download se torna algo extremamente tenso.
25. Anticristo, de Lars von Trier
(Dinamarca/Alemanha, 2009)
Após a morte do filho de um casal, a mulher entra numa depressão profunda que faz com que ambos tirem umas “férias” numa cabana isolada. Tudo não passa de uma justificativa para Lars von Trier analisar a psique humana diante da tragédia e nossas dificuldades em lidar com nossos traumas exteriores e interiores.
FYC: A sequência inicial em slow motion, com a queda da criança.
24. Ilha do Medo, de Martin Scorsese
(Shutter Island. EUA, 2010)
Dois detetives chegam até um hospital isolado de Boston, em que os médicos realizam experiências radicais com os pacientes. Ilha do Medo é um estudo de personagem fascinante, onde Scorsese encontra em Teddy um retrato tênue entre insanidade e fragilidade.
FYC: Após tudo ser esclarecido, um entristecido Mark Ruffalo dá o sinal de negativo com a cabeça para um dos médicos da instituição.
23. Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro
(El laberinto del fauno. Espanha/México, 2006)
A fábula assustadora de Guillermo del Toro não se restringe ao fantástico. Carregada por sua mensagem antiguerra no longínquo ano de 1944, onde uma criança é atormentada pelo mundo vulgar, sanguinário e perverso dos adultos; os passeios pelo labirinto de fantasias são uma fagulha de esperança para uma jovem que cresceu rápido demais.
FYC: O primeiro contato de Ofélia com o labirinto.
22. Último Sacramento, de Ti West
(The Sacrament. EUA, 2013)
Ao finalmente abraçar o contemporâneo, Ti West expõe o assustador fanatismo religioso de uma sociedade, que não por acaso lembra a história de Charles Manson (aqui, Charles Anderson Reed).
FYC: Esperando pela entrevista exclusiva, a chegada d’O Pai.
21. Pânico 4, Wes Craven
(Scream 4. EUA, 2011)
Modernizando sua estrutura, Wes Craven encerra a sua carreira se reinventando pela última vez, dialogando no percurso com a própria franquia e a popularização dos remakes. O canto de cisne de um mestre.
FYC: A sequência inicial metalinguística.
20. Resolution, de Justin Benson e Aaron Moordead
(EUA, 2012)
Entrelaçando o drama psicológico com o terror, o resultado do primeiro longa de Justin Benson e Aaron Scott Moorhead é uma obra sobre caminhos, escolhas e consequências, numa ótica enlouquecedora e genuinamente intimidante.
FYC: Os protagonistas assistem as suas mortes.
19. Amantes Eternos , de Jim Jarmusch
(Only Lovers Left Alive. Alemanha, 2013)
Há uma natureza romântica, poética e grunge na mitologia do vampirismo que é instigante. É proveniente dos grandes autores, tais como Bram Stoker, Anne Rice, que celebram esse misticismo com pitadas de humor gótico transcendentes e apaixonantes. A maneira como visualizamos os vampiros através dos tempos foi, portanto, mais apaixonada e calorosa, algo que rendeu inúmeros romances teens que discorriam sobre o amor proibido. Uma tragédia shakespeariana com mortos-vivos. Mas como seria a ótica vampírica acerca dos humanos? Como ele veriam nossa raça? Com empatia, compaixão, inveja ou profundo desprezo? A melancolia de Amantes Eternos, obra-prima de Jim Jarmusch, percorre essas dúvidas com uma profundidade fantástica, que reproduz um tom sinistro, intenso e constantemente suicida. Como se a imortalidade fosse um intragável fardo, Adam se arrasta pelo cenário com a dor que só alguém que já viveu muito poderia carregar. A idade não está na aparência, mas nas ações, semblante e experiência de cada um deles.
FYC: A dor de não estar vivo, mas ainda andar nas associações de Adam e Eve com suas fotos/músicas/poemas.
18. Segredo da Cabana, Drew Goddard
(The Cabin in the Woods. EUA, 2011)
Escrito por Whedon e Goddard, e dirigido pelo último, a história mostra paralelamente dois ambientes: no primeiro, um grupo de amigos embarca numa viagem com destino a uma cabana isolada, que é situada no meio da floresta; no outro, acompanhamos dois personagens que parecem ser algum tipo de cientistas que observam cada passo dado pelo primeiro grupo. Embora as brincadeiras com o gênero sejam recorrentes, O Segredo da Cabana acaba se tornando aquilo que achava não existir mais: uma grandíssima surpresa.
FYC: O elevador.
17. Corrente do Mal, de David Robert Mitchell
(It Follows. EUA, 2014)
No segundo ato de Corrente do Mal, a personagem interpretada por Maika Monroe afirma que Hugh teria a contaminado e que ela deveria escolher se passaria o vírus adiante ou não; de qualquer forma, ela carregaria aquilo até seus últimos dias. É assim que a narrativa de David Robert Mitchell se assume como uma interligação clara entre o conhecido slasher dos anos 70 e a conscientização sexual dos anos 2000. Não deixando claro a época que o filme se passa, algo que ressalta ainda mais as inseparáveis barreiras entre década e subgênero, o cineasta retorna ao espectro da revolução sexual da década de 60, quando a chegada da pílula anticoncepcional potencializou o sexo como um dos fundamentos mais básicos do terror. Se você transasse, as chances de sobreviver eram nulas. Mas é levantando sempre novas hipóteses, tensões a cada passo e o afastamento do moralismo que David Robert Mitchell deixa seu nome na história.
FYC: O significado das cores na narrativa.
16. Deixe Ela Entrar, de Tomas Alfredson / Deixe-me Entrar, de Matt Reeves
(Lát den rätte komma in/Let Me In. Suécia/EUA, 2008/2010)
O relacionamento de duas pessoas tratadas como diferentes em uma sociedade e o amor que transcende barreiras manifestadas por um ingênuo desejo. No original sueco, a adaptação é exibida através do drama de um menino insuportavelmente infeliz e atormentado; no americano, o suspense romântico que se torna referência. Ambos, entretanto, chegam à mesma excelência.
FYC: As personagens deitam nuas ao lado dos garotos (como se finalmente se entregassem por completo, sem limites) com o sangue escorrendo pelos lábios, enquanto eles as pedem em namoro.
15. Os Outros, de Alejandro Amenábar
(The Others. Espanha/EUA, 2001)
Diretor de um dos filmes de terror mais importantes da década de 90, Morte ao Vivo, Alejandro Amenábar retornou em 2001 ao gênero que o impulsionou em primeiro lugar para dar outra célebre contribuição. Os Outros contava a história de uma mãe e seus dois filhos que ainda vivem a espera do marido combatente de guerra. Na solidão de seu isolamento, a família passa a ser repetidamente assombrada por forças que só compreenderão ao fim.
FYC: Poucas sequências são tão inesquecíveis quanto aquela em que a família descobre sua verdadeira natureza.
14. Babadook, de Jennifer Kent
(Australia, 2014)
Numa família em que a falecida figura do pai é presente em sua rotina, um conto de fadas assustador ganhar forma pode ser uma consequência. Jennifer Kent surge ao mundo como uma das maiores promessas do cinema contemporâneo ao analisar o espectro da ausência na rotina de uma família e a fragilidade do lar, ao mesmo tempo em que uma figura opressora aparece.
FYC: Baba-dook-dook.
13. A Bruxa, de Robert Eggers
(Reino Unido, 2015)
Uma visão feminista e intrigante sobre a bruxaria no século XVII. Um dos filmes mais importante da A24.
FYC: O exorcismo no menino.
12. Em Minha Pele, Marina de Van
(Dans ma peau. França, 2002)
O filme da brilhante Marina de Van é uma obra que fala sobre os sete pecados capitais, mesmo que isso não seja expositivo. Estão ali: a gula, a luxúria, a cobiça, a inveja. Na melhor amiga que passa a odiar o tratamento recebido pela colega que colocou lá e agora passa a ocupar o lugar que sempre quis. Numa piscina fica claro a inveja que sente, quando torce para todos observarem o quanto Esther é repulsiva. O quanto aquela srta. Perfeita se desfigura. E ela realmente se desfigura. Mas porque deseja sentir algo. Numa crítica ao social-consumo e a elite, de Van permite que seja exposta. Desnuda-se em frente às câmeras para se mutilar. Ter algo que a lembre de que algo nela é feio. A cena do restaurante é a mais icônica do longa-metragem, quando a instabilidade chega ao ápice e carnes são naturalmente cortadas.
FYC: Esther não sente mais seu braço, no restaurante.
11. Amer, de Helene Cattet e Bruno Forzani
(Bélgica/França, 2009)
Movendo-se muito mais por ostentações de sentidos e prazeres estéticos do que propriamente da substância da história, embora esteja lá; é na exploração de suas cores, sua fotografia e cenários, os maiores artifícios do cinema de Forzani e Cattet. No caso de Amer, todo esse cuidado na forma como a narrativa é construída nasce tão impactante e detalhista que arrisco dizer que o próprio Argento – a principal inspiração – deve ter ficado orgulhoso. Ambos não almejam o susto fácil, mas a subjetividade que as cores possuem. Qual é o significado de cada plano e a combinação entre eles. As perguntas acabam sendo outras.
FYC: O balé de cores no decorrer da narrativa.
10. Pesadelo Mortal, de John Carpenter
(John Carpenter’s Cigarette Burns. EUA, 2005)
Em 2005, um dos projetos mais audaciosos do gênero era lançado, chamado de Mestres de Horror. A proposta era simples: diretores tidos como “gênios do terror” seriam convidados para realizar telefilmes. Não foi um grande sucesso ou um catálogo muito expressivo, principalmente levando em conta tanta liberdade criativa; entretanto, foi de lá que saiu a última obra-prima de John Carpenter, a qual foi traduzida no Brasil como Pesadelo Mortal. Na trama, um antigo colecionador contrata um homem falido para recuperar a cópia rara de um filme.
FYC: Um homem acorrentado é tido como relíquia para o colecionador.
9. Corra, de Jordan Peele
(Get Out. EUA, 2017)
O terror racial jamais havia sido explorado como neste clássico instantâneo. Iniciando com uma cena espetacular de um homem negro num bairro de classe média assustado com a presença de um carro luxuoso, Jordan Peele é inteligentíssimo na construção de sua atmosfera ao deixar com que cada aspecto aterrorizante seja sintomático e jamais gratuito.
FYC: A tensão sobre quem sairá da viatura da polícia e como procederá.
8. mãe!, de Darren Aronofsky
(mother!, EUA, 2017)
Cinema não é só aquilo que se diz. Não é só o que é mostrado em tela. A arte não é evidência. É subjetiva, metafórica, aflitiva. A nova obra-prima de Aronofsky, mãe!, não fala sobre milhares de desconhecidos entrando numa casa com o aval de um homem controlador. Não. Ele utiliza essa metáfora para mergulharmos numa trama paranoica, antirreligião e, acima de tudo, ambientalista. Afinal, um título mais claro que mãe! seria possível apenas se ele viesse acompanhado por … natureza. É sobre ela que Aronofsky se debruça, julgando nosso caráter como civilização – já que somos forasteiros, que se sentem em casa, sem ligar se interferimos ou não no design imaginado para aquela casa, para aquele mundo. Assim, a figura de uma mulher para representar fisicamente a natureza é uma das melhores decisões possíveis que o diretor podia tomar, já que consegue evidenciar ainda mais a relação entre domínio/submissão e a misoginia presente nas mais diversas camadas sociais. Um dos filmes mais controversos dos últimos 20 anos.
FYC: As pessoas comem o corpo do filho do anfitrião.
7. Pontypool, de Bruce McDonald
(Canadá, 2008)
É como se ouvíssemos algo como a transmissão de Orson Welles sobre Guerra dos Mundos pela primeira vez. Numa perspectiva radiofônica, Bruce McDonald faz um dos filmes mais tensos dos últimos quinze anos.
FYC: A propagação do vírus pela fala.
6. Midsommar – O Mal Não Espera A Noite, de Ari Aster
(Suécia, 2019)
O novo filme de Ari Aster, Midsommar, basicamente sintetiza o horror moderno como uma ode ao estranhamento. É uma obra complexa sobre a nossa concepção da morte e do confronto numa viagem contra o que julgamos errado ou desconhecido. Uma obra-prima.
FYC: O sexo ritualístico.
5. Kill List, de Ben Wheatley
(Reino Unido, 2011)
Depois de uma série de filmes para a televisão, o promissor Ben Wheatley lançava o seu segundo longa-metragem, em 2011. A narrativa continha traços do que se tornaria a assinatura do diretor: o drama intenso, o desenvolvimento que culmina no terror e o cinismo pontual. Afinal, Wheatley não é um diretor de gênero. É um cineasta completo, que passeia por diferentes vertentes, experimentando em todas elas. Em Kill List, a história recai sobre um veterano de guerra que começa a trabalhar como assassino de aluguel, acompanhando um antigo parceiro, devido a falta de oportunidades de trabalhos para alguém como ele. Seu passado no campo de guerra acaba exercendo influencia no seu cotidiano cada vez mais, contudo.
FYC: O memorável terceiro ato.
4. Triângulo do Medo, de Christopher Smith
(Triangle. Reino Unido, 2009)
Existe uma passagem na peça A Trágica História do Doutor Fausto, adaptada por Christopher Marlowe, que descreve exatamente a ruptura do ser, quando o personagem questiona o valor da vida, e ocasiona uma renegação ao divino. É o que podemos descrever como o exato instante em que Jess é confrontada por um navio que emerge do vazio trazendo seu nêmeses: ela mesma. Obra-prima.
FYC: Jess é levada pelo intermediário da morte, na figura de um taxi, para uma despedida final, a qual, tal como Prometeu, será eterna – pela sua tentativa desesperada de renegar o fim.
3. Hereditário, de Ari Aster
(Hereditary. EUA, 2018)
O terror de uma família enlutada. Influenciado por filmes como O Bebê de Rosemary, o cinema de Ari Aster, aqui, engloba como a fragilidade humana permite o aproveitamento emocional. Mostra que, por mais que se possa dissimular um mundo por maquetes, não se pode dissimular quem realmente é – e o que herda. É genial.
FYC: Um barulho de estalo com a boca é ouvido num carro.
2. [Rec], de Paco Plaza e Jaume Balagueró
(Espanha, 2007)
Ao todo, é difícil contabilizar com certeza a quantidade de found footages ou mockumentarys, ou ambos, lançados no mundo. Estima-se que chegue a mais de 500 filmes até agora. Expressivos como Rec, todavia, quase nenhum. O filme foi lançado em 2007, pelos diretores Paco Plaza e Jaume Balagueró, cuja parceria se estenderia para mais três filmes da franquia. REC utiliza a câmera ao seu favor todo o tempo, registrando quase que realisticamente a sensação de claustrofobia, medo e tensão dentro do prédio. Seja uma mulher aparentemente frágil correndo em direção aos personagens. seja sua queda do alto do prédio, quando só se ouve o corpo “cortando” o ar; o primeiro REC exibe uma frieza calculista, que faz com que nos assustemos com a própria previsibilidade, em momentos. Um marco, sem dúvidas.
FYC: Nosso último contato com Ângela.
1. Invocação do Mal 1 e 2, de James Wan
(The Conjuring. EUA, 2013) /(The Conjuring 2, EUA/Canadá, 2016)
Nenhum filme de terror foi mais importante do que Invocação do Mal. Com ele, James Wan criava a sua obra-prima definitiva de um apaixonado pelo gênero para outro, além de ter o gatilho para pavimentar seu universo próprio. Do tamanho de Wes Craven e John Carpenter, o cineasta malaio coloca seu nome na história a popularizar os nomes dos Warren, restabelecer o gênero como mainstream/lucrativo e chegar ao ápice na continuação, com seus jogos cada vez mais inteligentes de perspectivas e manipulação. Impossível escolher o melhor dos dois longas-metragens.
FYC: No primeiro filme, a brincadeira de esconde-esconde; no segundo filme, a construção da tensão com Billy indo pegar um copo d’água, enquanto sua irmã fala sozinha no quarto.
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As demais indicações podem ser visualizados nos vídeos e listas que faço desde 2015, além da primeira lista completa de 150 filmes:
2015: https://www.youtube.com/watch?v=NrMEZvWUrKs
2016: https://vimeo.com/196626723
2017: https://letterboxd.com/clickfilmes/list/the-best-horror-movies-of-2017 / https://vimeo.com/248176978
2018: https://letterboxd.com/clickfilmes/list/the-best-horror-movies-of-2018 / https://www.youtube.com/watch?v=Nq3QPOe7_WM&t=2s
2019: https://letterboxd.com/clickfilmes/list/the-best-horror-movies-of-2019/
Lista de 2015: http://clickfilmes.blogspot.com/2015/10/os-150-melhores-filmes-de-terror-dos.html
Lista no blog: https://clickfilmes.blogspot.com/2020/10/lista-os-200-melhores-terrores-dos.html