Terror em 2024: os filmes essenciais

Chegamos ao fim de mais um ano no universo do cinema de terror, um ano que, embora não tenha sido extraordinário, ainda nos presenteou com obras dignas de nota e discussão.

Desde 2014, mantenho o compromisso de compilar anualmente uma lista que celebra a diversidade e a criatividade do gênero de terror, destacando sua capacidade única de refletir e interpretar nossas realidades culturais em constante mudança. Em 2024, mesmo aquém de outros, o gênero continuou a evoluir, apresentando algumas tendências interessantes e momentos de brilhantismo criativo.

O ano foi dominado por franquias e filmes de grandes companhias. Foram, no entanto, os independentes que continuaram a desafiar convenções com narrativas mais ousadas e visualmente impactantes. Observamos também um aumento significativo de produções fora dos Estados Unidos ganhando mais destaque, enriquecendo o gênero com perspectivas globais.

A seguir, compartilho com vocês os meus filmes de terror favoritos de 2024, cuidadosamente selecionados. Espero que esta lista desperte em vocês o mesmo entusiasmo e fascinação que senti ao descobrir cada uma dessas obras memoráveis.

Os Melhores Filmes de Terror de 2024

30. Abraço de Mãe, de Cristian Ponce

Neste thriller psicológico com nuances lovecraftianas, Cristian Ponce nos leva a uma jornada perturbadora onde o sobrenatural se entrelaça com traumas pessoais e desastres climáticos. Ambientado no caótico Rio de Janeiro, o filme segue a personagem de Marjorie Estiano enquanto ela navega por uma narrativa repleta de alegorias traumáticas e horrores pessoais, desafiando as fronteiras entre fé e ceticismo, realidade e o oculto.

Sou muito fã de História do Oculto, o filme anterior de Cristian Ponce. Aqui, ele mostra um apreço enorme pela literatura entre fé e ceticismo, sobrenatural e real, de Lovecraft. Não é um filme genial, e para isso deveria se aprofundar mais nas suas múltiplas camadas, mas também é um filme extremamente natural, com poucas respostas para oferecer, propositalmente.

Disponível: Netflix

29. I Saw the TV Glow, de Jane Schoenbrun

Nesta narrativa surreal, Owen, um adolescente tentando sobreviver nos subúrbios, é introduzido por sua colega Maddy a um misterioso programa de TV noturno. Esta experiência revela um mundo sobrenatural oculto sob a realidade aparente, fazendo com que a percepção de Owen comece a se fragmentar sob a pálida luminescência do televisor.

Jane Schoenbrun demonstra uma evolução notável em seu segundo longa, consolidando uma voz autoral distinta. Enquanto “We’re All Going to the World’s Fair” mergulhava no esoterismo digital, “I Saw the TV Glow” expande essa exploração para o âmbito da identidade e aceitação juvenil. A cineasta habilmente navega por terrenos emocionais complexos, criando uma obra que ressoa profundamente com seu público-alvo. Embora a estética visual e sonora seja elogiada, a força do filme transcende esses elementos, oferecendo uma narrativa rica em camadas que aborda temas universais de alienação e busca por pertencimento. Schoenbrun prova já ter uma voz singular no cinema contemporâneo, capaz de capturar as nuances da experiência adolescente moderna.

Disponível: Prime Video, Google Play, Claro Video e Apple TV. 

28. The Glenarma Tapes, de Tony Devlin

Neste found footage, Tony Devlin nos transporta para a costa norte da Irlanda, onde, na primavera de 2020, cinco estudantes e dois membros do corpo docente do Mid Ulster College of Art desapareceram misteriosamente em uma floresta. O filme promete revelar os eventos enigmáticos daquele dia.

Eu sou amante de found footage e este me pegou. Personagens críveis; engraçado em alguns momentos, trágico em outros. Tony Devlin poderia fazer esse filme sem ser um found footage, que, em mim, teria o mesmo impacto. O charme está na relação dos quatro protagonistas – e até onde se sabe o que aconteceu.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

27. Azrael, de E.L. Katz

Neste filme pós-apocalíptico e visceral, E.L. Katz nos apresenta um mundo devastado após o arrebatamento, onde sobreviventes são levados a renunciar ao “pecado da fala”. Imagine literalmente o diretor de Cheap Thrills fazendo um filme sangrento sobre o arrebatamento, com um roteiro do excelente Simon Barrett, num mundo em que a fala foi banida e só nos resta a violência. É tão tresloucado como você pode achar. E essa anarquia funciona.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

26. Dagr, de Matthew Butler-Hart

Neste found footage britânico, YouTubers em busca de fama se encontram em um pesadelo paranormal quando a equipe de publicidade que eles tentam sabotar acidentalmente desperta um demônio druida do passado.

Parente de #ChadGetsTheAxe, Hell House LLC Origins: The Carmichael Manor e outros, Dagr é sobre um druida maléfico cuja energia se projeta sobre uma mansão onde seria o cenário de sacrifícios. Tem personagens divertidos, uma montagem interessante para um found footage e, principalmente, os cânticos são assustadores. Consegue ter uma estética imersiva muito eficiente. Pode, inclusive, ser o pontapé inicial de uma franquia.

É o melhor trabalho de Butler-Hart até agora, superando seu trabalho anterior em The Isle (2018). Dagr mostra uma evolução significativa no estilo e na habilidade narrativa do diretor, consolidando sua posição no gênero de terror.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

25. The Seeding, de Barnaby Clay

Um caminhante se perde no deserto e se vê preso em uma batalha sádica pela sobrevivência contra um grupo de crianças selvagens. O filme explora as fronteiras entre o folclore e o mundo das seitas. A performance de Scott Haze no papel de protagonista deixa bastante a desejar, contrastando com a bela atuação de Kate Lyn Sheil, que emerge como o verdadeiro destaque e elemento de força em um filme que navega pelas fronteiras entre o folclore e o universo das seitas. 

Disponível em: VOD (Video on Demand)

24. Starve Acre, de Daniel Kokotajl

Neste folk horror, um casal inadvertidamente permite que forças sombrias e sinistras entrem em sua casa quando seu filho começa a agir de forma estranha. Essa intrusão desperta um mal antigo e há muito adormecido, profundamente enraizado na zona rural.

Com ótimas atuações e uma atmosfera pesada, é um filme que se aproxima muito da primeira fase do folk horror da Unholy Trinity formada por Enigma de Satanás, O Homem de Palha e O Caçador de Bruxas. Há evidentes traços modernos dos filmes de Robert Eggers e Ari Aster, mas Kokotajlo busca suas influências nas raízes do subgênero, criando uma experiência que é ao mesmo tempo nostálgica e relevante para o público moderno.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

23. Milk & Serial, de Curry Barker

Brincadeira de aniversário surpresa toma um rumo sombrio quando uma dupla popular de mídias sociais se vê forçada a enfrentar as consequências aterrorizantes de suas ações.

Milk & Serial se destaca por sua capacidade de criar uma atmosfera de desconforto intenso acerca da dualidade entre a aparência inofensiva das brincadeiras online e suas potenciais consequências devastadoras. 

Disponível em: Youtube

22. Cuckoo, de Tilman Singer

Nos Alpes alemães, Gretchen (Hunter Schafer) se vê relutantemente transplantada para uma nova cidade com seu pai e a família recém-formada. Logo, ela descobre que o local esconde segredos sinistros, enquanto é atormentada por sons enigmáticos e visões perturbadoras de uma mulher misteriosa que a persegue.

Tilman Singer continua a explorar temas de trauma cíclico e inevitabilidade em “Cuckoo“, ecoando o estilo distintivo estabelecido em sua obra anterior, “Luz“. Embora não alcance o mesmo patamar de excelência, o filme evoca comparações com o cinema inicial de David Cronenberg, mesclando elementos de body horror, sexualidade e desordem psicológica. A ambientação alpina proporciona um cenário atmosférico para a narrativa, enquanto a protagonista enfrenta forças sobrenaturais e psicológicas. Singer prossegue sua investigação de narrativas não lineares e realidades distorcidas, criando uma experiência cinematográfica que desafia percepções convencionais de temporalidade e existência.

Disponível em: Prime Video, Google Play, Claro video, Apple TV

21. Heretic, de Scott Beck e Bryan Woods

Duas jovens missionárias se veem forçadas a provar sua fé ao baterem na porta errada, sendo recebidos pelo diabólico Sr. Reed (Hugh Grant). Rapidamente, elas se encontram enredadas em seu mortal jogo de gato e rato.

Há muita coisa boa em Heretic, desde o roteiro de Scott Beck e Bryan Woods até as atuações de Hugh Grant, Sophie Thatcher e Chloe East. É um filme que por mais que seu final seja cínico, a construção que nos leva até essa disrupção faz valer a pena o percurso sobre controle.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

20. Terrifier 3, de Damien Leone

Desde 2000, muitos diretores tentaram criar novos ícones do slasher, como Victor Crownley, Leslie Vernon e afins. Eu não sou acostumado a hipérboles, mas acredito que Art, the Clown é talvez o grande ícone do horror pós-Ghostface. É um daqueles personagens que impressionam gerações. Terrifier 3 não é tão engraçado quanto os primeiros ou mesmo tão impactante quanto o filme anterior, mas continua uma saga que, hoje, não consigo visualizar o cinema de terror sem ela. As referências de Damien Leone estão por toda parte aqui, desde Charles E. Sellier Jr até Bob Clark. Com muito mais gore, claro. Da ótima protagonista de Lauren LaVera até a brutalidade, eu espero essa franquia dure muito tempo. Vida longa a Art, the Clown.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

19. Speak No Evil, de James Watkins

Neste remake, uma família americana aceita o convite para passar um fim de semana na idílica propriedade rural de uma encantadora família britânica que conheceram durante as férias. O que começa como um sonho de férias logo se transforma em um pesadelo psicológico emaranhado.

James Watkins, diretor talentoso, oferece uma reinterpretação do filme original dinamarquês de Christian Tafdrup. Embora possa não atingir o mesmo nível de desconforto e singularidade do original, esta versão se destaca pela força de seu elenco estelar. A química entre os atores é o ponto alto do filme, com James McAvoy e Aisling Franciosi formando um duo convincente, complementados pelas performances igualmente poderosas de Mackenzie Davis e Scoot McNairy. Watkins aproveita habilmente o talento de seu elenco para construir uma tensão crescente e explorar as nuances das relações interpessoais em um ambiente aparentemente idílico, mas cada vez mais ameaçador. O filme pode não quebrar novos terrenos em termos de narrativa, mas a direção habilidosa de Watkins e as atuações memoráveis elevam “Speak No Evil“.

Disponível em: Prime Video, Google Play, Claro video, Apple TV

18. Smile 2, de Parker Finn

Nesta sequência, a sensação pop global Skye Riley está prestes a embarcar em uma nova turnê mundial quando começa a experimentar eventos cada vez mais aterrorizantes e inexplicáveis. Sobrecarregada pelos horrores crescentes e pelas pressões da fama, Skye é forçada a enfrentar seu passado sombrio para recuperar o controle de sua vida antes que ela entre em colapso total.

Eu posso não achar a história da possessão de Smile suficientemente boa para carregar uma franquia. Esse segundo filme, no entanto, se deixarmos de lado a história principal da entidade, temos um complexo declínio mental fundamentado por uma atuação impressionante de Naomi Scott. Seus demônios são outros.

Disponível em: Prime Video, Google Play, Claro video, Apple TV

17. The Substance, de Coralie Fargeat

É intrigante que o país do extremismo francês – de onde Coralie Fargeat é oriunda – continua modificando o impacto do corpo e da carne, modernizando-se; aqui, no mundo de filtros em que vivemos. “A Substância” é um filme cujas influências vão desde o horror corporal dos Cronenberg até a introspecção de Marina De Van. No filme, uma celebridade em declínio decide usar uma droga do mercado negro – uma substância replicadora de células que temporariamente cria uma versão mais jovem e aprimorada de si mesma.

Disponível em: Prime Video, Mubi, Apple TV

16. #ChadGetsTheAxe, de Travis Bible

Neste found footage, quatro influenciadores de mídia social fazem uma transmissão ao vivo de sua viagem à Devil’s Manor, antiga residência de um culto satânico. As coisas não saem como planejado e, à medida que a violência aumenta, o mesmo acontece com as visualizações.

Depois de uma das cenas mais surpreendentes do filme, uma mensagem na tela aparece em destaque escrita por ExxxoticBDSM: “<1 GIRL.6. DILDOS. CLICK HERE>”.

Este é exatamente o espírito deste divertidíssimo e extraordinário filme de Travis Bible, que não só faz com que sua direção nos lembre o tom da geração Z em Deadstream, como também sabe muito bem ser diferenciado na maneira com que trabalha surpresa, suspense e tensão. Travis Bible é certamente um nome para ficar de olho.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

15. Desaparecer Por Completo, de Luis Javier Henaine

Um ambicioso e insensível fotógrafo de tabloides especializado em crimes torna-se vítima de uma misteriosa doença que o faz perder, um por um, seus cinco sentidos.

Desaparecer Por Completo” se destaca no panorama do cinema de horror latino-americano por sua aproximação à estética do horror oriental. Henaine cria um ambiente tenso e misterioso, utilizando elementos sensoriais para envolver o espectador na experiência do protagonista. O filme explora a perda gradual dos sentidos como dispositivo narrativo e metáfora sobre isolamento e vulnerabilidade. Embora algumas performances possam não atingir o potencial do roteiro, a direção visual de Henaine compensa, criando momentos de impacto e beleza inquietante.

Disponível em: Netflix

14. Monolith, de Matt Vesely

Uma jovem jornalista desesperada recorre ao podcasting para salvar sua carreira, mas sua pressa em fazer manchetes a leva a uma conspiração alienígena.

Meu maior elogio a Monolith é a comparação que consigo fazer com a obra-prima Pontypool. Matt Vesely demonstra habilidade em criar tensão e mistério com recursos limitados, focando na performance central e na construção sonora. Lily Sullivan oferece uma atuação notável no papel principal, ancorando o filme com uma performance que captura a determinação e o crescente desespero de sua personagem. Sua presença na tela é crucial para manter o envolvimento do espectador, especialmente considerando o cenário limitado do filme. O filme explora temas contemporâneos como a busca por relevância midiática e o poder das teorias conspiratórias, mesclando-os com elementos de ficção científica de forma intrigante. A abordagem minimalista de Vesely amplifica a sensação de isolamento e paranoia, criando uma atmosfera claustrofóbica que ecoa a experiência da protagonista.

Disponível em: Claro TV+.

13. All You Need Is Death, de Paul Duane

Neste filme irlandês de folk horror, um jovem casal colecionador de baladas folclóricas raras descobre o lado sombrio do amor ao gravar e traduzir secretamente uma antiga e tabu canção popular do passado esquecido.

Paul Duane mergulha nas profundezas do folclore clássico, estabelecendo uma conexão entre os primórdios da literatura sobre o tema e a atual onda de folk horror no cinema. O filme evoca a atmosfera dos contos dos irmãos Grimm e das baladas de Gottfried August Bürger, enfatizando a importância de preservar a sabedoria folclórica das comunidades marginalizadas.

All You Need is Death” explora a transmissão geracional da música e seu impacto profundo em quem a descobre, mesmo sem compreendê-la inicialmente. Duane destaca a urgência de preservar línguas, provocações, histórias e até mesmo elementos sobrenaturais, incentivando uma busca contínua por compreensão.

Esteticamente, o filme apresenta uma mistura das influências de David Cronenberg, Ari Aster e Peter Strickland, resultando em uma experiência cinematográfica intensa e perturbadora. A obra deixa o espectador intrigado sobre o verdadeiro segredo por trás da música antiga, criando uma atmosfera de mistério e inquietação. O horror explorado por Duane serve como um lembrete da importância de valorizar e preservar tradições culturais marginalizadas, ao mesmo tempo em que oferece uma experiência cinematográfica desafiadora e envolvente.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

12. MadS, de David Moreau

Um adolescente faz uma parada para testar uma nova droga com seu traficante antes de sair para uma noite de festa. No caminho de volta, ele recolhe uma mulher ferida, e a noite toma um rumo surreal.

MadS” se estabelece como a quintessência da “bad trip” no cinema de terror, oferecendo uma experiência visceral e frenética. David Moreau cria um pesadelo cinematográfico que captura de forma intensa a sensação de uma viagem de drogas que sai drasticamente do controle. A narrativa francesa é conduzida por um ritmo acelerado e uma estética visual perturbadora, que espelha os efeitos da droga e a crescente paranoia dos protagonistas.

Moreau habilmente mistura elementos de horror corporal, zumbinismo e ficção científica, criando um cenário de infecção generalizada que amplifica o senso de caos e desespero. Imagine o filme Adrenalina, com Jason Statham, altamente entorpecido.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

11. The Moor, de Chris Cronin (2023)

Chris Cronin dá um senhor cartão de visitas neste intrigante The Moor, que passeia pelo horror inglês com foco no sacrifício e na forma com que enxergamos presságios. Em momentos, é um filme que lembra o cinema de Aaron Moorhead e Justin Benson, noutros Robbie Banfitch. Neste folk horror britânico, Claire é abordada pelo pai de seu amigo de infância assassinado para ajudar a investigar o pântano assombrado que ele acredita ser o local de descanso final de seu filho.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

10. Longlegs, de Osgood Perkins

A Agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe), uma nova recruta talentosa, é designada para o caso não resolvido de um serial killer elusivo. À medida que o caso se complica, revelando evidências do oculto, Harker descobre uma conexão pessoal com o assassino implacável e deve correr contra o tempo para impedi-lo antes que ele tire a vida de outra família inocente.

Osgood Perkins continua a demonstrar sua habilidade em criar atmosferas distintas e esteticamente impressionantes em “Longlegs”. O filme marca uma clara divergência estilística de seus trabalhos anteriores como “Gretel & Hansel” e “I Am the Pretty Thing That Lives in the House“, evidenciando a versatilidade do diretor. A abordagem visual de Perkins em “Longlegs” é notavelmente sofisticada. O uso variável da razão de aspecto para diferenciar presente e passado, combinado com uma cinematografia que alterna entre planos distantes e próximos, cria uma experiência visual desorientadora e inquietante. Esta técnica efetivamente manipula a percepção do espectador, limitando ou expandindo sua compreensão do horror conforme a narrativa se desenrola. O filme evoca influências claras de clássicos do gênero como “O Silêncio dos Inocentes” de Jonathan Demme e “Seven” de David Fincher, situando-se na tradição de thrillers psicológicos com elementos sobrenaturais. A estética refinada e o tom de mistério permeiam a obra, criando uma atmosfera de tensão constante.

Disponível em: Prime Video, Google Play, Claro video, Apple TV

9. Daddy’s Head, de Benjamin Barfoot

Neste terror britânico, um menino e sua madrasta temem por sua segurança após serem visitados por uma criatura estranha que se assemelha ao pai recentemente falecido do garoto.

Parece que David Bruckner encontrou Nacho Vigalondo neste filmão inglês sobre o luto de mãe e filho que abre portas para intrusos que não são bem vindos. Poderia ter sido escrito por Neil Gaiman – e acho que é exatamente o motivo de ter me pegado tanto.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

8. Siksa Kubur (Grave Torture), de Joko Anwar

Neste filme de terror indonésio, após um ato violento que mata seus pais, Sita jura desacreditar a ideia de tormento sobrenatural após a morte — uma fixação que a leva a uma jornada sombria.

Joko Anwar é talvez um dos cinco melhores diretores do mundo a lidar com o suspense na atualidade, suas sequências continuam estonteantes, porém em Grave Torture ele abandona a contumaz ritualística para explorar mais o pós-vida. O resultado é menos James Wan e mais Nobuo Nakagawa. Um filme trágico, desregulado e devaneado, mas com uma naturalidade irresistível. 

Disponível em: VOD (Video on Demand)

7. The First Omen, de Arkasha Stevenson

Neste prelúdio da famosa franquia de terror, uma jovem americana é enviada a Roma para iniciar uma vida de serviço à igreja, mas encontra uma escuridão que a faz questionar sua própria fé e descobre uma terrível conspiração que espera trazer o nascimento do mal encarnado.

A primeira cena deste filme de Arkasha Stevenson é o retrato de uma santa sendo elevada por um andaime apenas para cair minutos depois sobre a cabeça de dois padres. É uma cena chave para entender a ótica de Arkasha em A Primeira Profecia: o sacrilégio com os símbolos cristãos será exposto para fins chocantes; assim como a culpa da igreja trará à tona uma violência e uma degeneração particulares, culminando um corte tão profundo que deixará à vista algo impactante. 

Existe uma malícia em todos os personagens de A Primeira Profecia que é muito palpável e enunciativa, o que reforça como cenas em que padres e freiras se unem para abortar ou parir crianças sejam tão fortes quanto uma garra emergindo de uma vagina. Uma mulher colocando fogo em si mesmo tampouco empalidece frente a tortura de outra dando a luz aos caprichos de uma igreja fragilizada e dividida que instrumentaliza o corpo feminino como objeto. Arkasha encara cada uma daquelas pessoas, padres e freiras, representando uma instituição conspiratória como se eles estivessem sendo julgados, enquanto gritos desesperados de uma jovem ecoam pelo que nasce de uma cesária. No fim, A Primeira Profecia dialoga mais intimamente com o cinema italiano dos anos 1960, reminiscente das obras de Brunello Rondi, do que com produções americanas contemporâneas, como as de Michael Chaves. Distingue-se notavelmente dentro da franquia, posicionando-se não apenas como uma obra diferenciada, mas como a sua expressão mais refinada e impactante.

Disponível em: Disney+.

6. Chime, de Kiyoshi Kurosawa

A vida de um chef é perturbada pelo som de um sino que traz consigo um crescente senso de pavor. 

Essa é uma obra especial de Kiyoshi Kurosawa sobre a aleatoriedade do horror em nossas vidas, a banalidade com que as coisas acontecem, enquanto fingimos estar tudo bem e seguimos em frente. A maldição de Chime não é a morte, mas a vida. Um filme incomodativo, mas extraordinário.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

5. Des Teufels Bad (The Devil’s Bath), de Severin Fiala e Veronika Franz

Na Áustria de 1750, Agnes, uma mulher profundamente religiosa, acaba de se casar. No entanto, sua mente e coração logo se tornam pesados à medida que sua vida se transforma em uma longa lista de tarefas e expectativas. Dia após dia, ela se vê cada vez mais presa em um caminho sombrio e solitário.

Inicialmente esboçado por Piers Haggard em 2004, o desenvolvimento do que hoje é conhecido como folk horror no cinema é relativamente novo. Suas primeiras descrições são provenientes da literatura gótica inglesa e ficaram estabelecidas por Oscar James Campbell, no The English Journal, em abril de 1963. No cinema, embora o folk tenha surgido no Reino Unido, ele se emancipou. Já passou por outras regiões, como o próprio Brasil, Alemanha, Islândia e Austrália.

Esse exemplar austríaco de Veronika Franz e Severin Fiala contém muita similaridade com filmes como You Won’t Be Alone, de Goran Stolevski e Hagazussa, de Lukas Feigelfeld. Faz parte da nova onda do folk horror, que se associa principalmente com o declínio ou ascensão mental de sua protagonista feminina até um ponto de corte. Seu horror é justamente o mundano e a rotina como a vemos no agora, o cerne do que é um bom filme de folk horror. Mas exibe características do que se via na trindade profana da década de 60 no Reino Unido, com O Caçador de Bruxas (Witchfinder General, 1968), de Michael Reeves, O Estigma de Satanás (Blood of Satan’s Claw, 1971), de Piers Haggard, e O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973), de Robin Hardy.  É um filme quase didático – e por isto um filme poderoso.

Disponível em: VOD (Video on Demand)

4. Oddity, de Damian Mc Carthy

Darcy, após o brutal assassinato de sua irmã gêmea, busca vingança contra os responsáveis usando objetos assombrados como suas ferramentas.

Oddity” marca a consolidação de Damian Mc Carthy como uma voz significativa no cenário do horror contemporâneo. Embora seu trabalho anterior “Caveat” já tenha chamado atenção, este novo filme parece ser sua declaração definitiva de estilo e visão. Goste ou não do cinema de Ari Aster, Bryan Bertino e afins, é inegável que existe uma retumbância muito forte desse estilo no cinema contemporâneo de horror. Em sua carta de apresentação definitiva, Mc Carthy cria uma obra genuinamente assustadora, calcada no trauma e com a pergunta: a quem você abre sua porta?

Disponível em: Google Play

3. Vermines, de Sébastien Vaniček

Os residentes de um edifício de apartamentos deteriorado lutam contra um exército de aranhas mortíferas e de rápida reprodução.

Um horror de periferia francês, que ao mesmo tempo em que passeia pelo aspecto social e pela pobreza daquelas pessoas palpáveis, onde o Estado não se importa com suas vidas e os jogam numa espiral de sobrevivência, não se distancia do foco principal: a infestação gerada por aranhas mortíferas e evolucionais. Sébastien Vaniček cria sequências inesquecíveis, como aquela em que uma personagem está no banheiro enquanto o reflexo do espelho mostra várias aranhas descendo as paredes. Ou os tubos de ventilação preenchidos pelos aracnídeos e o ataque calculado de uma aranha, após uma idosa jogar inseticida no sótão. Ou toda a sequência do túnel cheio de aranhas em que os personagens precisam passar apenas para serem escorraçados pela polícia minutos depois.Imagine [REC] com aranhas ao invés de zumbis.

Disponível em: Prime Video

2. Late Night with the Devil, de Cameron e Colin Cairnes

Uma transmissão ao vivo de um talk show noturno em 1977 dá terrivelmente errada.

Divertido, inteligente e cria do mumblegore norte-americano dos anos 2010s, Late Night with the Devil não é só o melhor filme de Cameron Cairnes e Colin Cairnes, é um dialogo inteligente e combinativo com a insanidade dos anos 1970. Impossível parar de assistir.

Disponível em: Prime Video

  1. MaXXXine, de Ti West

Na Hollywood dos anos 1980, a estrela de filmes adultos e aspirante a atriz Maxine Minx (Mia Goth) finalmente consegue sua grande chance. Mas enquanto um misterioso assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rastro de sangue ameaça revelar seu passado.

À medida que MaXXXine explora a dualidade entre moralidade e imoralidade, ele também alude à forma como a repressão se manifesta em choques reais, com stalkers, cultos, rituais e devassidões que são permitidas desde que sejam sutis. Andamos pelas ruas enquanto observamos o night stalker, prostituição, gangues, pessoas em toque de recolher, mas adulamos cultos ao céu aberto, prestigiando em hipocrisia aquilo que reprimimos, seja em igrejas, estúdios ou cultos. Há pessoas que podem ser contra o sexo de bondage e correntes, mas podem amar a Mulher-Maravilha com seus braceletes e psicologia sexual reversa. Ti West engloba tudo isso em apenas 15 minutos de filme, com MaXXXine sendo ridicularizada por ser atriz pornô em um teste de elenco para um filme de terror, apenas para depois os produtores pedirem que ela mostre seus seios. 

Sim, o Giallo de Mario Bava, Sergio Martino e Dario Argento é claramente a influência estética do filme de West, com cenários que ressaltam luvas, máscaras, o subterrâneo, a perseguição, o mistério, as roupas de couro e a trilha sonora. Mas o aspecto moral no texto é algo que eclipsa e projeta Maxine como uma personagem rica.

Há o passado de West em todo o filme, com seus planos inclinados, controle de câmera e cinematografia característicos, o deslocamento de quadro e o aproveitamento de espaços vazios. É um filme com uma personalidade clara; West domina sua arte, ele pode ser ele mesmo e não quer que isso acabe. Ele é um ‘fucking star‘, como sua alter-ego. 

É um longa que, assim como “Entrevista com o Demônio” fez neste ano de 2024, engloba os anos 70 e 80 com um prisma dúbio de opressão e liberdade. A ferocidade contra o corpo, o estímulo de exorcismos, rituais e assassinatos imperam. A liberdade sexual é vilanizada por psicopatas e crentes com o mesmo tipo de ferocidade.

MaXXXine é isto. É uma época. O retrato de uma época. Uma época em que, diferente do sorriso forçado na tristeza de Pearl, faz com que Maxine agora seja mais do que uma personagem ou uma atriz com ilusões de estrelato. Faz com que ela seja uma cabeça de cera, um produto aclamado, sob o olhar histórico da face, do olhar e do sangue.


Disponível em: Prime Video, Google Play, Claro video.

Até o ano que vem!

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