Minha Jornada de Emagrecimento: Reflexões sobre Obesidade, Autoisolamento e Reeducação Alimentar

Falei um pouco sobre minha obesidade quando escrevi sobre A Baleia e o quanto o meu autoisolamento se dava pelo fato de uma depressão aguda e cada vez mais agressiva. Os últimos dias estão sendo melhores que os anteriores, finalmente. Eu estou emagrecendo e voltando a ter uma rotina com mais vida e mais saúde. O motivo do meu alerta foi um quadro de pressão alta. Falo em voltar a ter uma rotina com mais vida, pois ao focar na comida, eu fazia dela minha única parceira. Ela e meu quarto. Ela e minha situação. Ao parar de só comer, eu percebi outras cores, outras belezas e, principalmente, uma outra vida. É um processo doloroso e contínuo. Mas pra mim tem sido necessário. Nos últimos dias, por exemplo, eu passei a poder me olhar no espelho. Eu não olhava para meu corpo há meses.

Uma coisa que é curiosa é que quando você está emagrecendo, como tudo na vida, as pessoas só notam ao ver você na fase de conclusão. Mas quem vive em seu próprio corpo nota as mudanças que se passa. Por exemplo, eu tive um processo de perda de barriga, depois perda de bunda, peito, face e agora de braço. Porque, além de perder massa gorda, a dieta pode fazer você perder massa magra. A primeira vez que fiz essa dieta, com baixo carboidrato, eu perdi 33 kg em um ano. Foi muito difícil. Notei que as pessoas aplaudiam mais quem fazia bariátrica por sua “coragem” do que para quem passou por um processo de emagrecimento e reeducação alimentar que durou doze meses. Durante os 12 meses, eu só ouvi desencorajamento de minha família e amigos. Dizendo que, ao emagrecer, eu estaria prejudicando minha saúde – pela forma que estava fazendo. Interessante, né. Não importa, gordo ou magro, as pessoas lhe agredirão da medida que elas possam. A não ser que sintam pena. E pena é uma coisa que nunca sentiram de mim.

Essa reeducação alimentar durou quatro anos. Até eu me isolar e ir direto ao fundo do poço. A pandemia me trouxe isso. Eu vivi a pandemia dentro da comunicação da Secretaria da Saúde de Santa Catarina. Eu e meu colega Escandiuzzi fomos os únicos que estivemos desde o início. O governador do Estado saiu duas vezes, foram três secretários de saúde diferentes, seis na comunicação, e eu e ele estivemos lá. Desde a primeira até a última reunião. Não levamos nada, a não ser os traumas. Muita gente que viveu pelo Estado não levou nada. Quem viveu do Estado levou bastante. Há uma diferença grande em viver pelo e do. Foi neste período que passei a engordar. Pois imaginei que fosse morrer. A sensação de voltar a comer doce novamente foi indescritível. Fazia anos que não comia muito doce. E foi como se estivesse experimentando pela primeira vez. Em meses, eu comi litros de leite condensado. Coloquei toda minha ansiedade na comida. A medida que o tempo passava e minha depressão se acentuava, eu me sentia horroroso comigo e quis externalizar isso. Ora, se estou mal comigo mesmo, que todos vejam. Foi assim que pensei. 

E aqui estou. Escrevendo sobre isso e lamentando o quanto deixei chegar a esse ponto. O quão dolorosa são novas jornadas. E o quanto só você sabe o que passa realmente. Por tudo. 

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