Um ano muito menos desafiador em obras cinematográficas que o anterior, 2022 chega ao fim com o cinema mainstream mais forte. Foi um ano de coming of ages de grandes diretores, como o de James Gray em Armageddon Time, o de Steven Spielberg em The Fabelmans e no Brasil ainda tivemos ainda o de Kenneth Branagh, no mês de março, com Belfast. Também foi um bom ano para filmes que revisitaram personagens clássicos, como o novo Batman e a sequência de Top Gun. Pro terror, como os folks e indies Hellbender, What Josiah Saw e You Won’t Be Alone. Para histórias reais adaptadas, como She Said e Argentina, 1985. E para dramas fortes como Saint Omer.

A seguir, eu listei os dez filmes que mais me entusiasmaram, desafiaram e me apaixonaram neste ano. São meus favoritos de 2022. Podem não ser os seus, que podem estar numa lista mais ampla. Mas o cinema é justamente bonito por isso: sua subjetividade e amplitude.

Alguns dos longas chegarão ao Brasil nas próximas semanas. A lista é em ordem decrescente (e busquei deixar o título original das obras).

10. Ressurrection, de Andrew Semans

Rebecca Hall é a melhor atriz de sua geração e confirma isto em Ressurreição oferecendo um poderoso testemunho sobre a nossa fragilidade frente a um passado que nos tira toda a vitalidade. É sobre uma executiva que se vê diante de um psicopata que volta a assombrá-la depois de 20 anos.

Disponível: Apple TV.

9. Pearl, de Ti West

A história de origem do filme X.

Pearl é o testemunho de uma jovem reprimida que vive sob a tutela de uma mãe autoritária numa fazenda isolada no interior dos Estados Unidos.

Há uma plasticidade e uma poesia em Pearl que evidencia a evolução de Ti West como autor. De A Casa do Diabo até este excelente Pearl, ele nos reverencia com sua habilidade para evocar assombro, tristeza e singularidade.  Pearl traz uma influência assustadora de Psicose a O Mágico de Oz – com uma Mia Goth extraordinária, em uma das melhores atuações de 2022.

Disponível: Estreia 26 de janeiro no Brasil.

8. Crimes of the Future, de David Cronenberg

A ARTE TRIUNFA MAIS UMA VEZ.

O erotismo do choque. O prazer no bizarro. A arte traumática. O Cronenberg original.

Visualmente fascinante, Crimes do Futuro é a ereção do cronenbergiano clássico. É um cinema de choque, mas sobre o prazer que a sociedade tem por sua própria dor. Sua própria violência. Seus instintos mais animalescos. Crimes do Futuro resgata ao Cronenberg cru do começo de carreira. É a nostalgia de um homem de quase 80 anos que se permitiu voltar a sua própria juventude para mostrar sua herança.

Disponível: Mubi.

7. Teenage Emotions, de Frédéric Da

O que acontece dentro das paredes de uma escola americana? Um filme simples e honesto quanto a crueza e a genuinidade da juventude. Uma obra povoada por cenas e diálogos belos sobre quem somos durante o período em que estamos urgentemente querendo crescer.

Disponível: Mubi US e VOD.

6. The Fabelmans, de Steven Spielberg

A arte revela. A arte inspira. A arte machuca. A arte transforma. The Fabelmans é um filme a base de retratos e histórias. É um filme sobre a arte de criar nossas memórias. Ouço Spielberg contando sobre a casa ser a única da rua sem luzes de natal. Ou que a vida de seus pais, quando ele era criança, parecia um musical. A imagem conta e expressa sentimentos. Spielberg filma a poética de termos a imagem na nossa mão, sob controle, e homenageia não apenas o cinema, mas como ele incide sobre nós.

Disponível: Estreia 12 de janeiro no Brasil.

5. The Northman, de Robert Eggers

Entrego a minha causa e a mim próprio

(Titus Andronicus, de William Shakespeare)

Como um horror Shakespeareano, onde a violência e a feitiçaria imperam durante o reinado de homens que defendem sua suposta nobreza, essa obra intensa e épica de Robert Eggers nos traz sequências lindíssimas e ferozes.  É um testemunho de um homem em busca exclusivamente de vingança e regozijo divino – nada mais.

Disponível: Amazon Prime Vídeo e Apple TV.

4. Pleasure, de Ninja Thyberg

A crueza com que Ninja Thyberg cria uma obra cheia de conflitos pragmáticos sobre imagem, personas e falsos prazeres é magnetizante. Violento, hardcore, complexo e reticente, Pleasure nos acompanha num misto de curiosidade e simpatia pela protagonista que acaba reverberando numa angústia crescente – a cena em que ela divide com dois caras, num ambiente de masculinidade tóxica agressiva, contrasta brilhantemente com a cena submissiva anterior, onde a personagem se sente a vontade num set cheio de mulheres. Em L.A, não existe conto de fadas. Uma obra dura e honesta sobre a indústria pornográfica atual norte-americana.

Disponível: Mubi.

3. Medusa, de Anita Rocha da Silveira

Além de ser uma obra assombrosa sobre submissão e feitiço, Medusa é o retrato aterrorizante de um Brasil evangelizado pós-bolsonaro. Talvez seja o filme que melhor represente o horror de uma nação como a nossa, a qual observou, nos últimos anos, a compaixão e a liberdade virarem perseguição e ódio. 

Essa obra primorosa de Anita Rocha da Silveira carrega dor, política e esperança. É um grito dilacerante.

Disponível: Festivais e VOD.

2. Elvis, de Baz Luhrmann

Elvis é uma daquelas raras biografias que evocam a personalidade de sua estrela. 

É perversão, é rebeldia, é sexualidade, é pecaminosidade, é lindo, é forte, é cruel e é triste, é complexo, é insano, é real e é duro.

É Elvis Presley.

Disponível: HBO Max.

1. The Banshees of Inisherin, de Martin McDonagh

Eu observo nesta obra-prima de Martin McDonagh a projeção de um artista sobre seu duelo interno quanto a própria arte. Ao passo que a arte pode nos tornar reclusos, arrogantes quanto ao tempo e tirar um pedaço de nós, ela também nos afasta da bondade, da ingenuidade e da simpatia (aqui representada por Colin Farell). A arte é capaz de minguar a bondade e deixá-la rancorosa.

Os Banshees de Inisherin é como uma tragédia cômica Shakespereana, onde um pequeno lugar é tomado por uma rivalidade que desestabiliza a ordem social e traz presságios de má sorte e morte. É um filme complexo, com personalidades complexas. Destaque para todas as atuações, mas, principalmente, para Kerry Condon.

Disponível: Estreia 2 de fevereiro no Brasil.

Boas sessões!

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