Terror nacional? Isso mesmo. Embora não tenha sido um gênero tão popular no país no passado (até José Mojica Marins era mais aclamado na Europa do que no Brasil), o horror começou a despontar como um dos favoritos de diretores iniciantes. Além disso, o grande público passou a se interessar mais por nossos regionalismos. Nos últimos anos, Festivais foram feitos para focar apenas no gênero e alguns dos nomes mais famosos do horror nacional provém de curtas-metragens, um canal ideal para uma aproximação inicial com um determinado público.
Em 2013 e 2016, por exemplo, diretores como Dante Vescio, Rodrigo Gasparini e Dennisson Ramalho apareceram no cenário internacional com segmentos para a franquia O ABC da Morte. E o terror nunca esteve tão em alta no Brasil.
Mas, então, existem filmes do gênero sem ser os de Zé do Caixão? Existem – e muitos. Após as primeiras aventuras de Zanatas, o cinema marginal brasileiro também usou o horror de trampolim para suas críticas sociais/políticas. Alguns exploraram a pornochanchada dos anos 70 e 80. Outros, a partir dos anos 2000, ficaram mais políticos.
A seguir, eu listei as minhas produções favoritas do gênero no país. Uma lista que, claro, poderá ter futuros acréscimos.
Proezas de Satanás na Vila de Leva-e-Traz (Dirigido por Paulo Gil Soares, 1967)
Muitos dos filmes da década de 60 e 70 que se aventuraram pelo gênero vinham do cinema marginal brasileiro, onde serviam como plataforma para monólogos políticos. Proezas de Satanás caminha por esta ótica: a do caminho profano. Na história, o diabo para em uma cidadezinha do interior de Minas, quando o último padre da cidade anuncia que está indo embora. Uma das maiores proezas do filme (com o perdão do trocadilho) é a música de Caetano Veloso, que fornece romantismo a uma obra que deve muito a ela, principalmente nos dois primeiros atos, antes de encontrar a sua crítica mordaz, com o Satanás virando político.
Dog Skin (Dirigido por Tiago Teixeira, 2019)
Muitos curtas-metragens já são lançados com o nome inglês para conquistar espaço internacional e passarem por aprovações internacionais. Esse Dog Skin, de Tiago Silveira, é um desses exemplos. Na história, um sem-teto que mora em um prédio abandonado é obcecado pela visão de uma mulher misteriosa que o visita todas as noites.
Nua Por Dentro do Couro (Dirigido por Lucas Sá, 2015)
Gosto do trabalho do Lucas Sá, que também tem outro curta muito eficiente chamado O Membro Decaído. Neste belo e paranoico filme, Gilda Nomacce é maravilhosa.
NUA POR DENTRO DO COURO – Trailer from Lucas Sá on Vimeo.
Amor Só de Mãe (Dirigido por Dennison Ramalho, 2003)
Dennison Ramalho simboliza pra mim a passagem entre o terror independente brasileiro das fitas de vídeo para o filme estético e regionalista atual. Esse é um dos primeiros trabalhos mais famosos.
Longo Caminho da Morte (Dirigido por Júlio Calasso Jr., 1972)
Um dos bons filmes da década de 70 do Brasil, é uma obra sobre a passagem do tempo. Acompanha a vida e a morte de um coronel decadente entre suas paranoias, desespero e necessidades.
LONGO CAMINHO DA MORTE – Longa/Fic – MESTRES – dir: Júlio Calasso from CAVIDEO 2022 on Vimeo.
Blondie – A Loira do Banheiro (Dirigido por Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, 2016)
Uma das duplas mais interessantes e divertidas do cinema de horror brasileiro moderno. Aqui, eles exploram a lenda da loira do banheiro. Ganhou prêmios internacionais.
“Blondie” (2016) from Dante Vescio on Vimeo.
Enjaulado (Dirigido por Kleber Mendonça Filho, 1997)
Antes de se tornar conhecido por seus longas-metragens, Kleber Mendonça Filho já explorava o homem de classe média cercado pelo medo e paranoia.
Enjaulado (1997), de Kleber Mendonça Filho from Vertentes do Cinema on Vimeo.
EGUM (Dirigido por yuri costa, 2020)
Terror afro sobre antepassados – cheio de regionalismo e pesadelos.
Onze Minutos (Dirigido por Hilda Lopes Pontes, 2018)
Pontes retrata os temores modernos, como uma corrida de aplicativo.
Onze Minutos – Versão Final com Legenda (English/ Français/ Español subtitles) from Hilda Lopes Pontes on Vimeo.
Um Estranho na Porta ou M is for Mailbox (Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, 2014)
Feito para a franquia ABCs of Death, esse exemplar sobre Van Helsing é curioso e inteligente.
Namidá (Dirigido por Renata Jesion, 2021)
Horror brasileiro oriental. Renata Jesion é um nome pra ficar de olho no circuito.
Nervo (Dirigido por Pedro Jorge e Sabrina Marostica, 2019)
Há algo de Fruit Chan na estética de Nerve, onde passamos a desconfiar que os salgados são feitos com carne humana.
Nervo (2019) – Curta Metragem from Pedro Jorge – “Cabron” on Vimeo.
Acorde (Dirigido por Tiago Teixeira, 2020)
Onírico e político.
Acorde / Wake Up from Tiago Teixeira on Vimeo.
Cianose (Dirigido por Matheus Strelow, 2014)
Um caso comum. Uma menina morta. Um dossiê policial acerca do caso. Com uma série de fotografias still, Strelow monta um curta suficientemente mórbido.
Cianose (2014) from Matheus Strelow on Vimeo.
Os Mortos-Vivos (Dirigido por Anita Rocha da Silveira, 2012)
Uma faceta romântica da excelente Anita Rocha da Silveira.
OS MORTOS-VIVOS / THE LIVING DEAD (2012) from Anita Rocha da Silveira on Vimeo.
OS MORTOS-VIVOS from Anita Rocha da Silveira on Vimeo.
Diabo Mora Aqui, O (Dirigido por Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, 2015)
O Diabo Mora Aqui compactua com as mesmas crendices que fez o horror de Zé do Caixão ser tão genuíno. Inseridos numa sociedade campestre, possuindo como referência o período colonial brasileiro (e a comparação com as colônias de abelhas é pertinente), os quatro jovens se tornam vítimas de uma ameaça que emana de uma natureza primitiva e quase animalesca.
Fábulas Negras (Segmentos de Rodrigo Aragão, José Mojica Marins, Joel Caetano, Petter Baiestorf e Marcelo Castanheira. 2014)
Antologia de quatro histórias, onde Aragão conseguiu chamar alguns dos maiores expoentes do horror nacional. A melhor história é de Petter Baiestorf, Pampa Feroz, que apresenta uma narrativa finíssima de lobisomem.
Antônia (Dirigido por Flávio Carnielli, 2020)
Meu preferido do Carnielli, que já é um realizador prolixo. Um casal de idosos vê sua fé desaparecer, após perder familiares.
Celular (Dirigido por André Pinto e Henrique Spencer, 2020)
“Sua casa, seu túmulo”.
Talvez atender um celular tocando num terreno baldio não seja uma boa ideia. É uma obra para quem ama found-footage e/ou filmes americanos que envolvem jovens dentro de mansões mal assombradas.
Kassandra (Dirigido por Ulisses da Motta. 2013)
Horror que se passa em porto-alegre, aborda uma menina com agorafobia e a sua completa ausência de comunicação. O maior destaque é a performance de Renata Stein, que eleva sua desordem até ela se tornar palpável ao público e formar sua fonte de defesa.
Uterus (Dirigido por Pedro Antoniutti, 2017)
Existe uma raiva muito rara no filme do gaúcho Pedro Antoniutti. Há profundidade e complexidade na violência, enquanto observamos em como ela incide para cada um daqueles personagens e como chegaram até ali.
Uterus | Short Film, 2017 from Pedro Antoniutti on Vimeo.
Mangue Negro (Dirigido por Rodrigo Aragão, 2008)
É o primeiro longa-metragem de Aragão. A primeira parte de sua trilogia pantanosa. Na narrativa, à la Sam Raimi, zumbis canibais começam a atacar uma pequena e isolada comunidade de pescadores.
Verão Fantasma (Dirigido por Matheus Marchetti, 2022)
Essa obra linda exala a personalidade de Matheus Marchetti — e o que ele construiu cinematograficamente até aqui. A cena dos personagens cantando Sandy e Junior é uma das mais simpáticas de 2022. Uma opera de horror independente inesquecível.
O Peregrino de Catabranca (Dirigido por Leonardo Rolla, 2018)
Atmosférico filme de Rolla sobre trabalhadores rurais que recebem uma caixa com ovos mágicos que concedem desejos.
Pop Ritual (Dirigido por Mozart Freire, 2019)
A perversão do relacionamento entre o relacionamento entre um padre e um vampiro mantido em cativeiro ganha ares eróticos e poéticos.
Cemitério das Almas Perdidas (Dirigido por Rodrigo Aragão, 2020)
Num determinado momento do filme O Cemitério das Almas Perdidas, de Rodrigo Aragão, o espectador ouve os gritos de uma índia que é abusada por um padre jesuíta. Ouve, mas não vê. O contato que temos com o abuso, além dos gritos, é o formato de uma cruz que deixa entrar luz numa cela enlamaçada. Poucas cenas são capazes de representar tanto o novo ciclo do cineasta capixaba, que iniciou com A Mata Negra. O terror que era visto na trilogia dos zumbis – formada por Mangue Negro, A Noite dos Chupa-cabras e Mar Negro – agora dá lugar ao fanatismo religioso. Contando com um ótimo design de produção de Eduardo Cardenas, que nos transmite com eficiência as silhuetas fantasmagóricas dos portões de um castelo medieval tanto quanto é capaz de denunciar em sua direção de arte a pobreza da trupe teatral, a qual vive amontoada em beliches/colchões precários, Aragão aproveita cada detalhe visual – como o livro dos mortos sendo escrito sobre um púlpito de caveiras ou um braço que é visto sendo usado de candelabro. Igualmente, usufrui da maquiagem característica, cujas feições dos personagens são marcantes, para transmitir a aparência trágica e sem vida do que não envelhece. Provavelmente mais explícito que seu filme anterior, o cineasta também usa a trilha tribal para conferir a sonoridade do campo e ruminar a ideia de gerações sendo afetadas pelo livro de Cipriano (que aparecia no ótimo A Mata Negra). Aragão, aliás, filma a morte de dezenas de indígenas com crueza. Mas, talvez, a melhor sequência de sua carreira seja a primeira, onde observamos o demônio sussurrando palavras para a confecção do livro dos mortos e, com o passar do tempo, um caldeirão com almas humanas. Uma cena que, aliás, faria com que o homenageado no começo do filme, José Mojica Marins, ficasse realizado. Por quê? Pois ele saberia até onde a influência de seu inferno em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver teria chegado.
Lençol Branco (Dirigido por Marco Dutra e Juliana Rojas, 2004)
O terror familiar de Dutra e Rojas no início da carreira.
O LENÇOL BRANCO / THE WHITE SHEET from TRABALHAR CANSA on Vimeo.
Mal Nosso (Dirigido por Samuel Galli, 2017)
A caótica luta de um espiritualista que conversa com os mortos contra a ingenuidade e a malícia que recairá sobre sua família no aniversário de sua filha.
Pra Eu Dormir Tranquilo (Dirigido por Juliana Rojas, 2011)
Luis é um menino de 8 anos. Dora, sua babá, faleceu há algumas semanas. Quando Dora reaparece escondida no armário de Luis, o menino deve fazer grandes esforços para saciar a fome da babá. Filme solo de Rojas.
PRA EU DORMIR TRANQUILO from TRABALHAR CANSA on Vimeo.
AzulScuro (Dirigido por Evandro Caixeta e João Gilberto, 2021)
Azulscuro é dirigido por Evandro Caixeta e João Gilberto. A estrutura aproveita apenas a câmera do aparelho celular de uma menina durante o aniversário de morte de sua irmã. Sugiro assisti-lo na vertical e no celular. Tenso, dramático e bem pensado.
Noite Macabra (Dirigido por Felipe Iesbick, 2020)
Divertido terror de zumbis que une twists agradáveis, músicas e comédia com equilíbrio. Na história, os detentos de um presídio de segurança máxima escapam e seguem para uma pequena cidade. Filmaço que une referências desde Carpenter até Frank Oz.
Estátua! (Dirigido por Gabriela Amaral Almeida, 2014)
Da interessante diretora Gabriela Amaral Almeida, de A Sombra do Pai, o curta explora o embate entre um babá e uma menina.
Misteriosa Morte de Pérola (Dirigido por Guto Parente, 2014)
Conta a história de uma garota que se muda para outro país. A direção de Guto Parente acrescenta a atmosfera onírica do longa-metragem e testemunha a tênue linha entre o real e a fábula.
Membro Decaído (Dirigido por Lucas Sá. 2012)
Sá trabalha no campo das limitações. Ele que delimita o que o espectador pode ou não ver. Nesta simplicidade, a tensão reside nos detalhes.
O MEMBRO DECAÍDO (The Fallen Member / 17min) from Lucas Sá on Vimeo.
ONI (Dirigido por Diogo Hayashi. 2017)
Uma obra ritualística. Sobre a terra, sobre nós, sobre o ciclo familiar.
Anjo da Noite (Dirigido por Walter Hugo Khouri, 1974)
Tentando se distanciar tanto do trabalho que Mojica havia feito até então quanto do que havia sido proposto no cinema marginal, O Anjo da Noite é um sopro de novidade nos anos 70 para o horror brasileiro, que cria sua própria versão de A Volta do Parafuso.
Morto Não Fala (Dirigido por Dennison Ramalho, 2018)
Em determinado momento de Morto Não Fala, a personagem de Bianca Comparato observa na televisão um exorcismo evangélico e ouve a possuída falar com ela; pouco antes, Lázaro Ramos fala numa entrevista que a família lhe deu autoestima para passar pelas piores fases. De certa forma, a magia do trabalho de Dennison Ramalho se encontra em angariar medo de simples situações domésticas. Stênio é o protagonista, mas não da forma que o espectador acredita que será. Ramalho fornece as pistas, sem escancarar o caminho. Cada mudança na narrativa traz uma cena emblemática e inesquecível (a do cemitério, o exorcismo televisivo, o menino encontrando um aspirador sem ninguém). É um filme influenciado pelo mercado cinematográfico norte-americano, porém sem esquecer das raízes supersticiosas do horror nacional.
Mata Negra (Dirigido por Rodrigo Aragão, 2018)
Quarto longa-metragem dirigido por Rodrigo Aragão, A Mata Negra é um testemunho atual sobre evangelização, política e o mal moderno. O cineasta de Espírito Santo retrata os diferentes de seitas com sua habilidade criativa contumaz e uma maquiagem incrível.
Pranto (Dirigido por Jaime Guimarães, 2019)
Assustador e silencioso. Filmão da Paraíba.
Duplo (Dirigido por Juliana Rojas. 2012)
Tal qual o curta-metragem Religare, de Alexandre Inko filme de Juliana Rojas explora o tormento de uma professora numa sala de aula, que certo dia percebe que há um duplo dela tomando seu lugar.
O Duplo | Doppelgänger | Trailer from Avoa Filmes on Vimeo.
Estranho Mundo de Zé do Caixão (Dirigido por José Mojica Marins. 1968)
Mais um capítulo da saga do Zé. Aqui, uma compilação de três histórias de horror, onde canibalismo e sadomasoquismo são alguns dos temas de Mojica, cada vez mais insano e interessado nos limites do audiovisual.
Menina do Algodão (Dirigido por Kleber Mendonça Filho e Daniel Bandeira. 2003)
Uma história simples sobre assombração em banheiro de escola. Nas mãos de diretores que sabem absorver terror da simplicidade.
Terno do Zé (Dirigido por Fabiano Soares. 2015)
Quando a tensão, o medo e a história superam a linguagem ainda amadora, o resultado é um filme como O Terno do Zé, que tive a oportunidade de assistir pela primeira vez em 2015, quando votava em um festival. O clímax de Fabiano Soares é assustador.
Um Ramo (Dirigido por Marco Dutra e Juliana Rojas. 2007)
Um dos aspectos mais interessantes de Dutra e Rojas sempre foram as tonalidades de traumas emocionais. Aqui, a visão é a de uma mulher que começa a observar algo nascendo em seu corpo.
Encosto (Dirigido por Joel Caetano. 2013)
Com montagem do grande Rodrigo Aragão, o filme de Joel Caetano capta o misticismo religioso com uma classe invejável.
Papa-Figo (Dirigido por Alex Reis, 2018)
O diretor Alex Reis abrange neste ótimo curta-metragem nossas histórias de ninar, nossas lendas brasileiras e nossos medos infantis.
Papa-Figo | Short Horror Film (2018) from Alex Reis on Vimeo.
Who’s That Man Inside My House (Dirigido por Lucas dos Reis, 2019)
“Se você conseguir vê-lo, talvez ele apareça também na sua casa”.
Aqui está um exemplo fabuloso das sutilezas de um terror. Indicado como um curta-metragem que representa a inércia de uma nação, os clamores de um assustado jovem dizendo “é só não fazer nada” pode notabilizar muito mais do que uma simples entidade imóvel. É a testemunha do medo paralisante com que encaramos algo que está a espreita e que pode se mover a qualquer momento. Que filme!
WHO’S THAT MAN INSIDE MY HOUSE ? (2019) Eng/Esp – Subs from Lucas Reis on Vimeo.
A Pata do Macaco (Dirigido por Ademar Guerra. 1983)
Um inesquecível Mario Lago é o companheiro de Nathalia Timberg, que formam um casal que mora em um cortiço ao lado de um cemitério. Eles veem na chegada de uma família com dificuldades financeiras a oportunidade de passar adiante um amuleto mágico, a pata de um macaco, que dá a chance de fazer três desejos. A história é um clássico da literatura gótica britânica, de W. W. Jacobs.
Segredo da Família Urso (Dirigido por Cintia Domit Bittar. 2014)
E se escondêssemos um dos períodos mais aterrorizantes de nossa história, como se ela fosse uma memória esquecida, empoeirada, coberta por falsos bonecos e brinquedos? Se tudo não passasse de uma grande metáfora para uma juventude curiosa e inquieta? E o nosso pai representasse o estado opressor? A mãe, a negligência? A talentosa Cíntia Domit Bittar nunca esconde o jogo em O Segredo da Família Urso. Sabe que seu terror e suspense não se faz de sustos, mas hipnotiza pela realidade.
Ninjas (Dirigido por Dennison Ramalho. 2011)
Algumas das melhores cenas da filmografia de Ramalho (talvez todas elas) estão aqui, em Ninjas. Um filme em que seu protagonista tem que lidar com o fato de ter se tornado um monstro.
NINJAS from Dennison Ramalho on Vimeo.
Dead Teenager Séance (Dirigido por Dante Vescio e Rodrigo Gasparini. 2018)
Dois dos diretores brasileiros mais interessantes da atualidade, Dante Vescio e Rodrigo Gasparini parecem se divertir muito com essa homenagem espirituosa e fantástica ao slasher americano. Cinco caricaturas adolescentes e uma médium percorrem um caminho inverso e pretendem trazer o assassino mascarado para a realidade em que eles tem o controle. Engraçadíssimo e nostálgico como poucos.
Mate-me Por Favor (Dirigido por Anita Rocha da Silveira. 2015)
Bia é uma personagem fascinante. Dona de uma curiosidade mórbida e sempre dividida entre a inocência e a malícia (perceba o quarto da menina, após uma transa, por exemplo – de um lado ursos de pelúcia e no outro um crânio), a protagonista nos leva com naturalidade para caminhos comportamentais obcecados pela carne.
Sinfonia da Necrópole (Dirigido por Juliana Rojas. 2014)
– Você vai morrer um dia.
– Mas quando, padre? Por favor, quando?!
Dono de uma irreverência já presente no argumento (estamos falando de um musical com coveiros), Sinfonia da Necrópole cresce a cada revisita.
Quando Eu Era Vivo (Dirigido por Marco Dutra. 2014)
Quando escrevi sobre o excepcional Trabalhar Cansa, em 2011, eu apontei que o mais impressionante da estrutura narrativa criada por Juliana Rojas e Marco Dutra era a vantagem de ser praticamente um drama travestido de horror. Afinal, os temores do público eram provenientes da dose dramática depositada na realidade que a protagonista vivia. O terror não era definido pelo gênero, mas pelos acontecimentos familiares no roteiro. No seu primeiro longa-metragem solo, Dutra não rompe a barreira entre o sobrenatural e o real, mostrando-nos desde o princípio qual a sua proposta: o caminho que percorreremos não é seguro ou convencional, mas nem por isso imprevisível ou inverossímil. Um dos melhores terrores brasileiros já produzidos.
Boas Maneiras (Dirigido por Juliana Rojas e Marco Dutra. 2018)
Transitando por gêneros complementares, As Boas Maneiras é quase um filme dividido em duas partes: a primeira delas, a melhor, conta o sutil e apaixonado relacionamento entre Ana e Clara; a segunda, evidencia Clara tentando proteger Joel da sociedade, não o contrário. A fábula familiar acerca do amor transcendente nos coloca diante de um horror quase caloroso. Com Marjorie Estiano, excelente, e Isabél Zuaa.
As Filhas do Fogo (Dirigido por Walter Hugo Khouri. 1978)
O horror de As Filhas do Fogo, de Khouri, reverbera na solidão humana de sua trama. De sua ótica melancólica. Na história, Diana volta para casa de campo de sua família, após anos, e se vê diante de memórias tormentosas e também se vê diante do que se tornou, numa obra que passeia pelo terror gótico, por liberdade e sexualidade. É o melhor filme de seu diretor.
Vinil Verde (Dirigido por Kleber Mendonça Filho. 2004)
Possivelmente, uma das sequências mais marcantes da filmografia de Kleber é a do canto angustiante das luvas verdes. Amante do gênero, todos seus filmes possuem cenas de medo, mas nenhum deles tem sequências assustadoras como esta fábula infanto-juvenil.
A Meia Noite Levarei Sua Alma (Dirigido por José Mojica Marins. 1964)
O primeiro marco do cinema de terror brasileiro. Se o terror brasileiro formar uma espécie de Monte Rushmore algum dia, a face de Mojica deverá ser a primeira a ser esculpida. Na sua zombaria ao cristianismo e as tolices místicas, o cineasta se interessa em destacar as sandices populares brasileiras e como reagimos a elas.
Mar Negro (Dirigido por Rodrigo Aragão. 2013)
No seu passeio pelo trash, Aragão se inspira em Raimi e Romero para entregar o melhor filme da trilogia. Violento, divertido, fantástico.
Medusa (Dirigido por Anita Rocha da Silveira. 2021)
Além de ser uma obra assombrosa sobre submissão e feitiço, Medusa é o retrato aterrorizante de um Brasil evangelizado pós-bolsonaro. Talvez seja o filme que melhor represente o horror de uma nação como a nossa, a qual observou, nos últimos anos, a compaixão e a liberdade virarem perseguição e ódio. Essa obra primorosa de Anita Rocha da Silveira carrega dor, política e esperança. É um grito dilacerante.
Trabalhar Cansa (Dirigido por Marco Dutra e Juliana Rojas. 2011)
Um filme que fala acima de tudo sobre o horror capitalista de jamais saber o futuro de sua saúde financeira. “Não toca nisso, isso é sujo”, diz a mãe para a filha que mexe com o dinheiro do caixa. O terror familiar de Dutra e Rojas é puramente socioeconômico.
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (Dirigido por José Mojica Marins. 1967)
Para mim, a obra-prima do terror nacional. No segundo filme do personagem imortalizado por Mojica, o diretor se sente mais livre ao explorar o cinismo acerca de superstições e da natureza humana. Algumas das melhores sequências de sua filmografia estão aqui, inclusive, com direito a animais peçonhentos e o inferno na mente de Josefel Zanatas. Um clássico.
Boas sessões.
1 Comment
Fiquei muito honrado em fazer parte dessa seleta lista!