Pânico 6 é um filme surpreendente e uma homenagem belíssima ao culto criado pela franquia

Assim como o original, Pânico 6 é um filme surpreendente e óbvio na mesma medida. Diferente do quinto, porém, cujo interesse reside num fan service superficial, o novo filme da franquia finalmente se aprofunda no objeto de culto que Pânico se tornou. Para isso, a dupla de diretores decide refletir sobre o que nos trouxe até uma nova saga e o que a franquia ainda pode entregar sem se despir do seu caráter metalinguístico original. Isso, todavia, não traz a gratuidade de diálogos como “eu ainda prefiro O Babadook”. É mais fundo – e cristaliza honestamente a homenagem que Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin gostariam de entregar desde o princípio.

O caminho pode não ser o mais óbvio, já que o filme mais inspirador para esse novo longa-metragem é o subestimadíssimo segundo filme, no qual uma ópera dentro de um teatro ressignificava os múltiplos atos dos assassinatos na vida de Sidney Prescott e os traumas que eram representados por atores mascarados. Sid precisava escolher qual papel representar – e isso era salientado pela escolha de um dos assassinos. É uma pena que a nova protagonista, Samantha Carpenter, seja desprovida de carisma e se limite a servir de fio condutor para o passado entre Lumis e as novas vítimas de Pânico. Algo que tira um pouco da força de Pânico VI. Um exemplo é a forma como Billy precisa voltar no terceiro ato para lembrarmos por que ainda temos Sam como protagonista, quando todos os traços do roteiro e da própria direção apontam para a estrela mais óbvia: Jenna Ortega e sua personagem Tara.

Isso é ressaltado por closes na relação de amizade que Tara exibe com os sobrinhos de Randy, deixando Sam constantemente fora do quadro, como se não fizesse parte daquela história; pelo famoso soco em Gale Weathers, que é dado por onde menos se espera; ou por que não, diferente de Sam, o fato de Tara ter um destino muito parecido de Sidney: o fato da sombra de um passado familiar que não tem a ver com ela lhe perseguir e ser uma história que ela não desejava passar. Sam parece viver a sua vida em função de Ghostface. Tara, ao contrário, quer seguir adiante – assim como Sid. É sensível e emocionante, portanto, como um diálogo trocado pelas irmãs e Gale apenas endossa: “Sid merece um final feliz”.

Comparativo com spoilers (só leia se tiver assistido ao filme)

Se não esquecermos dos bastidores do sexto filme, o roteiro realmente  parece esperar por Sidney Prescott entrar pela porta da frente a qualquer momento e meter bala em todo mundo. O culto à Ghostface quer sua protagonista. A saída óbvia é forçar o protagonismo em quem matou Richie – e em como a família de um psicopata pode voltar a atormentar essa nova protagonista no mesmo ciclo vicioso que nos levou à conhecida franquia. A cena em que Mindy Meeks detalha os possíveis assassinos numa faculdade já é icônica. O que não seria tão nostálgico quanto ressignificar os assassinos da sequência? Sim, Pânico 2 é passado numa faculdade. Sim, a mãe de Billy retorna. Aqui, é o pai de Richie. O estudante aficcionado por Tarantino é trocado por um aficcionado por Argento. O cinema virou um santuário. A van em que Randy morreu agora é o escudo dos novos personagens para uma ligação telefônica no campus. E a sua sequência inicial talvez seja uma das mais surpreendentes da franquia, desde o início do quarto pânico. O telefone não é o que esperamos, a multidão não é o que esperamos, o fim não é o que esperamos.

É uma nova era com diferentes significados. Quando Roman é trocado por Richie como o diretor de um filme dentro de um santuário de Ghostfaces, o terceiro filme também passa por uma homenagem. Não só isso. O assassino se torna óbvio a partir de um assassinato num apartamento em que somente autorizados poderiam entrar e cuja máscara era simbólica: a de Roman. Roman, assim, como Quinn forjou a própria morte. O pai tampouco era sutil em falar de seus dois filhos mortos. E o virgem assassino é uma virada no melhor estilo de Pânico.

O retorno de Gale é inchado e pouco inspirado, verdade. Mas o amor dos seus dois diretores pelos novos personagens finalmente parece ditar o ritmo de uma nova franquia, assim como as cenas de assassinatos são muito melhor montadas. O trem em nova york já é outra cena clássica e poderosa. As trilhas sonoras em homenagem a sexta-feira 13, ao primeiro e segundo Pânico, são na medida. O mesmo para a inserção de Invasores de Corpos criando um paralelo com um óbvio assassinato. E até mesmo um velho diálogo de Randy no segundo Pânico parece encher de sentimento a relação de Tara com Chad: “eu deixaria o nerd ficar com a garota”.

Pânico 6 faz jus a história de uma franquia de poucos erros. É uma homenagem ao legado de Craven e, especialmente, ao seu segundo filme.

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