Lançada em 2012, Yami Douga é uma coleção obscura de contos de terror japoneses que se tornou uma raridade na internet – até hoje! Após ser lançada mundialmente pela Amazon, aos poucos a cinefilia virtual disponibilizou online 12 volumes das histórias de terror que se passam em Tóquio. São found footages (fitas encontrdas) que foram transformadas em filmes editados como mockumentarys (falsos documentários).
A primeira delas é Tokyo Videos of Horror, de Kazuto Kodama, que abre a coleção Yami Douga. Na primeira antologia, nós vemos um casal que se depara com o fantasma de uma menina assassinada, um ritual profano numa montanha, a carona de uma família para uma fantasma, um jogo de tabuleiro entre crianças com a presença de uma velha e um fantasma de um feto que se vinga da Yakuza. Como são histórias de terror independentes, o tom é extremamente amador e até mesmo as entrevistas com os supostos donos das fitas é bem risível. Mas a atmosfera que Kodama fornece para cada uma das histórias chama a atenção – mesmo com a limitação de recursos.
Adiante, a segunda parte da antologia Yami Douga é bem menos amadora que a primeira e rende um segmento numa escola vazia que é genuinamente assustador. Trata-se de um professor que é encontrado morto por dois formandos, que são amaldiçoados por essa visão. Todos os segmentos desta segunda antologia abordam, de uma forma ou outra, suicidas. Na terceira parte, os amaldiçoados retornam e um dos segmentos mais famosos aparece – Cursed Box. É sobre uma equipe de filmagem que fará um jogo de ouija dentro de um local abandonado e acaba se deparando com uma maldição.
O quarto volume da Yami Douga é meu favorito. Found footge de boa qualidade, com a essência investigativa do mockumentary dando um clima sensacionalista muito bom e que se mostra perfeitamente adequado no segmento das duas partes. Mas a melhor história da Yami Douga é o Hand of Glory. Um conto violento no qual um homem decepa a mão de uma mulher e faz um ritual divino. É o mais místico dos volumes. A quinta antologia continua a qualidade da quarta. Strange Campsite parece uma versão japonesa de A Bruxa de Blair, mas é A Caller for a Girl que é o mais repugnante e perturbador – nele, uma garota de programa é abusada por um tipo de entidade.
O sexto, o sétimo, o oitavo e o nono são volumes repetitivos, mas corretos. Um dos segmentos se passa num subsolo de um hospital abandonado – e é ótimo. Outro digno de nota se passa numa floresta com uma equipe de televisão. É um dos mais assustadores da série. No nono, igualmente, uma fantasma num parque é um dos grandes sobressaltos da série Yami Douga.
O diretor de Yami Douga e o mistério em torno da série de contos de terror japoneses
Procurei mais informações sobre o diretor da série, Kazuto Kodama, e não encontrei nada. Existe, sim, sua filmografia em alguns sites, mas nada específico sobre a pessoa, a não ser que ele tem 47 anos. Nem em alguns reviews sobre Yami Douga em sites asiáticos aparece algo. Passei a crer que até pudesse ser um pseudônimo. Se digitar no Google sobre a origem do nome Kazuto, a rede responderá que é um nome predominantemente feminino e pensei que pudesse se tratar da entrevistadora que aparece ao longo das antologias. Mas meu colega e amigo Walter Neto, que me indicou a antologia, achou a Wikipedia em japonês que fala um pouco mais do diretor. Diz que ele é formado em literatura, mas que desistiu do doutorado para fazer filmes. Se formou na Hitotsubashi University, mas desde 2007 não há mais nada sobre ele. Uma vírgula!
A série Yami Douga, assim, carrega uma atmosfera de sobrenatural, de deep weeb, de mistério que acaba nos fascinando além dela. É altamente viciante. Eu assisti aos dez volumes disponíveis em três dias. É um found footage tão amador que parece real. São contos de uma Tóquio obscura e cheia de lendas. Assista agora.